Ilustração: Vó Cema com netos, filhos de Messias Gentil Lobo: Graça (no colo), Domingos e Cida, à direita, e Chica, à esquerda.
A fé católica de minha avó Cema

SUMÁRIO

     - Apresentação 
     - A fé da Vó Cema
     - MENINO-SERELEPE

APRESENTAÇÃO

No livro MENINO-SERELEPE, em que narro minhas memórias da infância, eu conto que fui criado numa família metade espírita metade católica.

O lado católico era centrado na matriarca IRACEMA GENTIL LOBO, a nossa VÓ CEMA.

E sendo hoje — 3 de fevereiro — o dia de São Braz, vamos recordar um pouco da fé de minha avó.

Vamos lá!

A FÉ DE VÓ CEMA


 Vó Cema (casamento da neta Francisca)
Eu anotei no livro MENINO-SERELEPE:

Sua resignação [a de vó Cema] em presença dos lances da vida pobre e difícil decorria da extrema fé católica. Fazia suas novenas, rezava seus terços, sempre lembrando as almas do purgatório e não perdia uma missa e não admitia que filhos, que noras, que genros e que nenhum dos netos deixasse de ir à missa aos domingos. Quando Deus quer, água da bilha é remédio, costumava dizer. E dessa sua fé colhia meio pra tudo, que qualquer problema ou enfermidade tinha solução com os santos. Chuva brava? Queimar palha benta e rezar pra Santa Bárbara e São Jerônimo! (Mas não se esqueça de cobrir os espelhos e guardar as tesouras...) Objetos perdidos? Rezar pra São Longuinho. Cisco no olho? Santa Luzia passou por aqui, seu cavalinho comendo capim... Engasgos? São Braz do mato desengasga o gato.
 
Reprodução. Internet

Ferida que não fecha? Oração pra São Lázaro. Pra nada faltar em casa? Imagem de São Benedito na cozinha. Pra cachorro não morder? São Roque socorre. Causas urgentes? Santo Expedito. Casos desesperados, negócios sem remédio? São Judas Tadeu. E Menino Jesus de Praga pra cuidar das criancinhas.

Cinza na testa na quarta-feira de Carnaval e respeito durante toda a Coresma era tradição que ela exigia que fosse cumprida. Crendospadre! Bata na boca e num fala raio, menino, que não presta! Ela nos passava um pito assim quando a palavra escapava. Num mata bendito que ele trás bom agouro, dizia fazendo o pelo sinal quando a gente queria esmigalhar um louva-a-deus. E se alguém perguntava como vai dona Iracema? Ela sempre respondia: Bem, na Santa Paz do Cristo.


Vó Cema e netos na Aparecida do Norte

MENINO-SERELEPE

 
(*) Esta narrativa faz parte do livro Menino-Serelepe - Um antigo menino levado contando vantagem, uma ficção baseada em fatos reais da vida do autor, numa cidadezinha do interior de Minas Gerais, nos anos 1960.

O livro é de autoria de Antônio Lobo Guimarães, pseudônimo com que Antônio Carlos Guimarães (Guima, de Aguinhas) assina a série MEMÓRIAS DE ÁGUINHAS. Veja acima o tópico Livros à Venda.