Romantismo e História

Imaginei-me subindo as pedras do Tendó, do Vento, do Cruzeiro e de Picos, todas na minha terra Teixeira (PB), sentindo a brisa inconfidente

Eu sei que a aragem passa por cada uma delas com mensagens diferentes.

Na pedra do Tendó, a brisa recorda instantes românticos, na Pedra do Vento momentos históricos, na do Cruzeiro relembra um pouco de história e romantismo, já na pedra de Picos, nanica na sua inanição milenar, evoca tempos de poesia.

Pedra do Tendó.

Fechei os olhos e me imaginei em tempos idos de uma tarde de domingo, na Pedra do Tendó.

Eu era ainda adolescente e, carregava a ingenuidade do amor ainda não experimentado, porém me jogava nos braços do inesperado, na expectativa de que ele me trouxesse uma surpresa.

Subi a pedra com a minha primeira namorada, quase menina. O horizonte distante se fazia cúmplice dos meus intentos. O pulsar das emoções afastava a inibição, a brisa afagava os cabelos da linda jovem e acariciavam meu rosto trazendo uma sensação nunca sentida. A cidade de Patos, lá na planície distante, fazia silêncio em respeito ao meu primeiro instante de amor. Tudo era expectativa, o tempo sempre célere, retardara seus passos, queria presenciar o amor nascente...

Pelo que me contou Agar Nunes, ela passou pela mesma experiência e, nas tardes de domingo expressava sua saudade através da Difusora do Teixeira, operada por Milton Lira, projetando na suave brisa a música “Domingo Feliz”, cantada por Carlos Galhardo, e sempre solicitada por “Uma tarde no Tendó”.

Pedra do Vento

A brisa ali, embora sempre renovada, recorda acontecimentos da história do Teixeira.

Parece-me ver naquela pedra, o lendário Liberato, então (século 19) delegado do Teixeira, presenciar inerte, o cruel assassinato de Delfino Batista de Melo, meu tetra avô, juiz de paz de Teixeira. Os conhecidos cangaceiros Guabirabas, esperaram a volta de Delfino de um roçado perto da cidade. Ao chegar ao Açude Novo, os Guabirabas o surpreenderam e cortaram em pedacinhos o seu corpo.

Conta a tradição que o Vigário do Teixeira na época, Padre Vicente Xavier de Farias, tentando salvar Delfino, correu com uma cruz e apresentando-a suplicou que não o matassem, pois ele era inocente. Dizem que os cangaceiros zombando do crucifixo diziam “Leve esse boneco para longe”.

Liberato, de comprovada coragem, vendo-se em inferioridade numérica, assistiu passivo e oculto a morte mais cruel de que se sabe na história do Teixeira.

Pedra do Cruzeiro

Nesse memorável monumento a brisa cantarola ao ouvido do visitante, um misto de história e romantismo.

Eu subia rapidamente àquela pedra e, lá em cima, nem me lembrava de olhar o Cruzeiro, de simbolismo tão grande, eu preferia procurar identificar o telhado da casa da jovem que me encantava. Não sei se os nossos sonhos coincidiam, é bem provável que não, pois, eu ainda desconhecia a tal de mutualidade, bastava que eu amasse. Se eu fosse mais experiente nesse mister, ou se a minha ingenuidade fosse menor, a minha decepção no futuro não teria sido tão grande.

Alguns anos mais tarde, chegando a Teixeira, de férias, num domingo, como recomendara meus pais, primeiramente entrei na Igreja de Santa Maria Madalena, e ao me ajoelhar vi um grupo de pessoas no altar-mor e, entre elas, uma cabeça conhecida, enfeitada com um véu de noiva. A frustração e decepção me levaram para fora da Igreja, uma forte tontura me fizera amparar numa parede, depois sai sem rumo, ou quem sabe, em busca de um novo rumo.

Pedra de Picos

Fica no ponto de encontro dos caminhos de Poços e Riacho Verde. Das quatro pedras ela é a menos elevada.

Quando criança, a passagem pelo local era marcada pela constante presença de Tereza de Picos, assim a chamávamos. Uma pedinte metódica, com horário certo para chegar e sair, nunca a ouvi falar. Parece que Tereza sabia que os passantes conheciam as suas necessidades.

Picos era uma área privilegiada, ali nasceram Solon e Mimosa que encantaram Teixeira, um com o seu violão e a outra com sua voz.

Quem subisse até o pico da pedra, sentiria na brisa os últimos acordes dos violões de Zé Obrigo e Chico Imaginário na Casinha do Queiroz. Por volta de 1928, as vozes melodiosas das jovens Julieta e Clara Queiroz, juntavam-se as suas belezas e unidas à poesia de Teodoro Nunes, “seu” Queiroz o velho e o novo, fascinaram até futuras gerações, ao ouvir essa história contada por Zé Mosquito.

João Fragoso

Março/2016

Joca Fragoso
Enviado por Joca Fragoso em 03/02/2021
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