O QUE É QUE A BAHIANA TEM?
Voltei a ter problemas emocionais, no meio da pandemia torcendo para que decline a propagação do vírus. No início enfrentava com bom humor o isolamento, as máscaras desconfortáveis e o álcool gel. Mas sinto que pode ser uma crise existencial que surge em vagas, um dia bem e outro nem tanto sentindo desânimo, apatia. Por que estou ansiosa sem ver perspectivas no aqui e agora? Acho que é a corrida contra o tempo, que vai surgindo com o passar do tempo e a incerteza do que virá depois.
Em agosto de 2020, as manchetes de jornais denunciavam as pressões de mulheres de extrema direita, perseguindo uma criança pobre, de dez anos, grávida, estuprada desde os seis anos, por seu tio de trinta e três. É acusada de assassinar seu filho desde que foi encaminhada para um aborto permitido por lei para meninas até quatorze anos. É um exemplo de obscurantismo em pleno século XXI. Soma-se à política de extermínio da população do país, com as mortes sucessivas, pela Covid 19, sem medidas públicas preventivas do Ministério da Saúde. Onde iremos parar com tanta ausência de humanidade?
Como posso manter a centralidade do eu sem me ausentar das vicissitudes da vida, num mundo cada vez mais caótico e em confinamento social? Escrevendo para não ficar angustiada com vontade de partir, escrevendo para denunciar, esperando que dias melhores possam surgir. No mundo que me cerca quero explorar o imaginário popular, as lendas, os mitos, as fabulações humanas dos povos milenares que enfrentaram o novo com o suporte das tradições ancestrais. Comparar-me com os outros, solidarizar-me com eles, com povos e culturas diversas sempre em busca dos elos entre o novo/presente e o velho/passado.
Integrar-me cada vez mais à natureza: dos rios, das florestas dos mares e dos animais para que eles possam contribuir nas possibilidades de vivenciar o diferente, o perigoso, os percalços do caminho, como o “polvo” que usa do mimetismo para sobreviver, e é visto como a síntese da capacidade de adaptação dos seres vivos.
Caminhar sempre na alternância entre o homem e a natureza sendo homem entre os homens e homem-natureza até chegar o momento da transposição final da comunhão com o universo.