Memórias de um tímido 01

De todos as áreas sociais, a afetiva é a mais complicada para um ansioso social. Porque afetividade exige intimidade e não ha intimidade se não conseguimos transpor os altos muros de nossas limitações.

De todos os contos infantis, aquele que melhor expressa nossa realidade é a da Princesa e o Sapo. Afinal, também esperamos pelo beijo que nos devolva a “humanidade”.

Algo que em si, já expressa um pouco da nossa natureza idealizadora e platônica. Na fantasia do outro nos salvar de nós mesmos. Expectativas que acabam sendo distorcidas para o outro lado da moeda: uma realidade catastrófica. Um querer tudo que migra para a certeza de que não vai dar em nada. Para a ansiedade social a distancia entre paraíso e inferno é apenas um passo.

Nesse medo de estar só (mais do que habitualmente se sente), não é raro vermos quem aceite relações abusivas acreditando na própria idealização (quem nunca teve nada qualquer pouco parece muito) ou se isolando ainda mais para evitar os efeitos colaterais do que a incompreensão de nossas dificuldades causam no outro: distanciamento, julgamento e cobranças que não conseguimos atender.

Um relacionamento trágico-cômico, como nas novelas mexicanas, que não sabemos se rimos pelo exagero ou choramos pela dramaticidade.

E se não bastasse a autocobrança, ainda sofremos uma pressão social. “Querer é poder”. Também queremos, mas não conseguimos, o que gera um constante sentimento de inadequação. Temos um universo em ebulição aprisionado em um corpo. Nosso problema nunca foi o contato, mas a falta dele.