"Superstição e futebol"

Eis que estou sentado na cadeira de área na varanda da casa de um dos meus melhores amigos, e pergunto:

E aí, você não vai me enviar a foto da camisa do Palmeiras, para eu postar no blog?

Ele, com ar um pouco constrangido me respondeu que não vai fazer isso porque o gesto simplesmente poderia "trazer azar" ao verdão no dia do jogo. Tentei argumentar, dizendo que um monte de gente já fez isso, que já comprou camisa, que já vestiu, e que o resultado do jogo vai depender do que os atletas fizerem em campo, e não de uma foto postada em blog. De nada adiantou, pelo visto. O cara parece acreditar mesmo nesta maluquice. E o que mais me surpreende é que é uma pessoa culta, apegada à ciência e às leituras, às constatações. Mas na hora do futebol, acredita nestes dogmas de Vó Manuela. Ah, quem não sabe quem é vó Manuela, lamento por não ter assistido à minissérie "Riacho Doce". Pesquisa no Google, não vou explicar!

Mas é fato que cada um tem lá suas mandingas e crenças quando o assunto envolve o esporte bretão. Num campeonato de futsal escolar, já ouvi história de estudante que jogava com o mesmo calção até perder um jogo. Quando a derrota acontecesse, trocava o calção! Já ouvi gente dizer que assiste as partidas apenas em um canal televisivo, porque o mesmo traria boa sorte à equipe. Eu, particularmente, não tenho superstição alguma, mas tenho um hábito estranho, no final das partidas, se meu time estiver ganhando jogo decisivo: Fico andando pra lá e pra cá, como se isso acelerasse o tempo, para a partida acabar. Mas isso não é superstição, é nervosismo mesmo!

Tem aqueles que apelam à religiosidade: Aí sim, é pra acabar! Desculpem-me mas, Iemanjá, São Jorge, São Gennaro, São Paulo, ou qualquer outra divindade têm muito mais coisas com o que se preocupar do que com peleja futebolística! Cada um no seu quadrado, ou melhor, no seu campo retangular e gramado.

Porém, nesse misto quase pagão de religiosidade, superstição e futebol, eu presenciei uma história intrigante, no mínimo:

Era um fim de semana de abril. Feriado. Mais precisamente, sexta-feira santa. Um monte de moleques e alguns adultos na beira do campinho do bairro, loucos pra jogar bola. Uns diziam que aquele dia não era para futebol, e outros, que não tinha nada a ver. Até que apareceu uma bola, e a maioria não resistiu: A pelota começou a rolar no gramado esburacado, sem qualquer pudor. Mas o que me intrigou neste dia inesquecível de memória adolescente foi o saldo final no fim daquela "pelada": Seis atletas de fim de semana que jogaram aquela peleja saíram machucados do campo, sem condições de retornar. Até hoje aquela sexta-feira santa me intriga, não nego.

Contudo, mantenho o meu ceticismo e continuo afirmando que rituais ou a ausência deles não interferem nos resultados dos jogos. Se assim fosse, a coisa fluiria como disse João Saldanha, ex-treinador e famoso jornalista esportivo: "Se macumba ganhasse jogo, o campeonato baiano terminaria empatado"! Bem isso! Mas por via das dúvidas, não custa nada pedir uma forcinha para que Iemanjá proteja o "Leão do Mar" no próximo sábado!

* O Eldoradense