"PERCORRER CORRENDO CORREDORES EM SILÊNCIO"
Creio que se poderia afirmar, em absoluto: existe sempre uma ausência! Em nós, dentro, aquele lugar onde e não quando, mas “onde”? Especificamente o âmago – acho – certa vez, um amigo me falou: Sabe, foi como se tivesse um lugar ali, bem específico, no qual qualquer amizade ou tentativa de amizade não conseguia preencher, porque contigo era diferente – Bem, não sei se reproduzi as palavras à risca, porém, a conotação foi essa, exatamente essa, foi quando me dei conta que além de ausências também somos saudades para algum outro.
Então, aquilo me fez penar sobre as ausências que vamos acumulando ao longo dos anos, desses dias de fins de janeiro, em que abrimos um livro e encontramos alguns cartões portais, que falam sobre praças, solidão e pessoas, ou bilhetes escritos em rodoviárias. Quem sabe, essas ausências sejam inerentes, e são, porque a memória, essa colcha, é tecida pelo tempo, pelo tempo de dentro de nós, isso foge a ordem natural das coisas, mas o “sentir” aquela citação sobre “sopa quente e beijo na testa” remete a um telefonema – no meio de uma geração que emudeceu o corpo – que vara a madrugada, com antigos rocks ingleses e obsessões sobre a realeza e dramas existenciais, ou tragédias.
Sinto. Afastei-me da ausência e pensei sobre outras coisas, que talvez, sejam essas outras coisas que preencham as “ausências”. Não sei e me perco sempre. Quem não? Só que a ausência assume tantas formas, um livro, uma caneta que se empresta no tempo de escola, um convite que foi recusado, aquele café e conversa jogada fora, o cigarro, tantas situações e contextos de ausências compõe algum estado de ser das gentes, sim, pessoas, você, eu.
Foi interessante ter vivido, ter sentido, ter escrito, ter chegado a tantos níveis de compreensões com algumas pessoas, poderia eu, tão pequeno em relação ao mundo, e tudo é relativo mesmo, mas, poderia eu ter tido tanto afeto, melhor: afetos interestaduais? A vida é boa e não é, a vida é um disco riscado do Roberto, na qual você só pode ouvir “Traumas”, alguns com doses e doses, outros com café e fumo, outros apenas em seus quartos sentindo ausências medicadas com antidepressivos. É que o mundo, é que as pessoas no mundo não perceberam que todos somos uns bandos de nostálgicos, e seguimos, sangue lusitano: espero que não. Espero que sentir, o fato, o ato, os dois, e o mundo, sejam sempre humanamente infinitamente pessoal.
E, chega sempre as ausências de perplexidade, essas são guiadas com cantoras, sabe, uma Marisa Monte, Marina Lima, Amy sempre fumando e tomando café, e tem uma hora que raios partem nessas ondas malucas de gente que escreve no computador, para evitar o peso do papel e do tornar real certas ausências – distância imaginária entre quem escreve e o próprio texto, pois essas ausências levam a... você saberia, eu sei. – Retomando, falava que as ausências de perplexidade dizem respeito às quais nos transformam nos pontos de interrogação do Gozaguinha, ou na exclamação de Erótic, da Madonna. Lido com essas ditas e cujas por meio de cantoras e cafés e cigarros e quando falei que os raios partem nessas ondas é quando ouço uma voz que me remete a um julho, a um frio, a uma chuva, a um abraço, a um amigo, a alguém que não vai voltar, que talvez me dissesse agora, usando frase de Clarice: Desculpem! Mas, se morre.
Então... ausências são fotografias que nunca envelhecem – não para quem sente, quem lembra, quem observa e se perde na tragada de um cigarro no meio da noite.
E no fim: somos apenas uma lembrança na cabeça de quem ainda vai morrer. Somos ausentes desde o útero