VER DEUS?
Deus é um ser de procura, Deus não permite ser encontrado, achado, com as pegadas da inação nem com as armas dos inermes, desarmados em querer.
Ele nos deu vontade, capacidade para escolher. Assim como um filho consagra, avalia e segue as qualidades de um pai, Deus pretende que todos encontrem a qualidade que nos foi ensinada para ser seguida. O ensinamento não envolve adesão e consenso pelo puro conhecimento do mesmo, requer vontade e direcionamento no leito da liberdade de escolha.
Ver Deus, estar no Reino dos Céus, uma certa miragem que a força da fé dificilmente alcança conceituação, é proposição de retórica. Com a morte passa-se o umbral da possível visão. Já ouvi dizer ser muita pretensão ver a face de Cristo, Deus. Fico com minha pequenez e o pregão shakesperiano,"'NÃO OUSO CRER NEM DESCRER DE NADA".
Ter paz em outros espaços é diverso dessa projeção, Ver Deus. Soa distante da percepção e próximo do mirífico.
Já o contrário se dá com o “Reino dos Céus”, implica em admiti-lo, consentir na sua existência, na viabilidade da Casa de Deus, do Ser Maior que foi a Primeira Causa, Energia Suprema, aberta a porta ao crédito e ao descrédito, ao gnosticismo e ao agnosticismo e ao ateísmo, que ensejaram e assim permanece a milenar discussão sobre a possibilidade de Deus, sua existência criadora, razão da vida de todos os seres, de todas as coisas, estreito caminho do difícil e inalcançável transcendentalismo, campo amorfo e cinzento para o estudo, sombra para o pensamento, caminho difícil e áspero para o entendimento curricular.
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"Por detrás de minha pele, que envolverá isso, na minha própria carne, verei Deus.
Eu mesmo o contemplarei, meus olhos o verão, e não os olhos de outro.
Meus rins se consomem dentro de mim.
Livro de Jó, cap. 19, vers. 26-27.
A meditação
Minha carne, eu sei, sou eu, minha história, as tramas que teço com os outros.
Minha carne manifesta esse ser interior que se renova ao me aproximar de
Deus, ou envelhece quando Dele me afasto, pois Deus é minha fonte, minha
origem.
Um lápis de luz desenha em minha carne um rosto ao longo de meus anos. Esse rosto se
matiza com as próprias cores da eternidade. Há como que uma atmosfera semelhante ao céu. Agora, desejo ardentemente vê-lo, Senhor.
Na escuridão, esse desejo oscila, quase cessa, quando Teu lugar parece vazio em mim e ao meu redor, ou quando pareces distante. Tal desejo me prepara a reconhecer-Te ao me afastar da mentira, de minhas máscaras e defesas? Pois pressinto que em Tua morte na Cruz nascem, para mim, a confiança e o caminho em Tua direção.
Diante de Ti, nenhuma necessidade de mentir, de dar um rosto que não seja o Teu. Os olhos que desejas para mim têm a beleza de Tua verdade.
Ao ver Jesus ir até as últimas consequências do Amor, Gregório de Nissa comentou no séc. IV: “Seguir Deus por toda parte a que me leva, isto é ver Deus”. Ao dar o tempo e até minha vida para o próximo, caminho sobre os passos de Jesus; eu já vejo Jesus. Então, os olhos de meu rosto da eternidade brilham com alegria. É como se o Pai me dissesse: “O que espero de ti, é teu coração. Que ele bata por teus irmãos e por Mim, para uma eternidade de delícias” (Salmo 15, vers. 11)."