Só quem sabe do presente é o futuro
A Covid-19 foi o primeiro evento a alterar a vida dos humanos em escala global depois do advento das redes sociais. Depois do início da nossa escravização pela tecnologia. No presente estamos todos navegando num mesmo mar de incertezas. As verdades sempre mais cruas são borradas pelas narrativas de negações e mentiras. As fake news.
Logicamente as negações e as mentiras não foram criadas pelas redes sociais. É um fenômeno evolutivo. Diante de fatos e verdades que abalem suas crenças, os humanos se rebelam usando como armas as negações e as mentiras. Muitas vezes armas mortais.
Um exemplo clássico. O presente da Inquisição foi a condenação de Galileu Galilei. A crença na mentira de que a Terra era o centro do Sistema Solar precisava continuar. Incrível, Galileu só foi absolvido por falar a verdade já no século 20 pelo papa João Paulo II.
Por inúmeras razões, entre elas os nossos sentimentos que nos transformam em seres facilmente sugestionáveis, não seremos capazes de entender com a mínima clareza o que está acontecendo no nosso presente. Os verdadeiros vilões e mocinhos de agora só serão conhecidos daqui algumas décadas ou até séculos.
Não devemos nos culpar por não entender o nosso presente. Desde que os humanos se apossaram do planeta é assim. Só quem sabe do nosso presente é o futuro. Com o agravante de nunca sabermos com que intenção os historiadores do futuro estarão contando a nossa história. Em que fatos eles se baseiam para contar.
Podemos citar vários exemplos. As guerras mundiais. As bombas atômicas jogadas sobre cidades do Japão. No seu presente, todos esses foram eventos foram marcados por muitas interrogações e reticências. Volta e meia aparece uma nova obra esmiuçando aquele presente por uma nova ótica. Apresentando fatos ou teorias novas. Acontece o mesmo com os filmes e as séries de televisão.
Hoje quem pretende contar a história dos acontecimentos dos presentes passado sempre esbarrará na escassez de informações. Qualquer historiador confirmará isto. Às vezes, é preciso confiar nas estórias contadas que foram passando de geração em geração. A dúvida sempre permanecerá. Ficção ou verdade.
Este é um problema que no futuro que for contar e filosofar sobre o nosso presente não terá. É assustadoramente farta, a herança de material para pesquisa que a Covid-19 está deixando. Só o lixeiro terá de ser grande para caber todas as mentiras que foram espalhadas.
Não devemos nos preocupar com a maneira que somos olhados pelo presente, e sim com o que futuro falará de nós. Vilões e mocinhos só quem conhece é o futuro.