Olhai também os lírios da serra
 
Descendo, numa manhã gostosa de dia útil, 
a neblina da serra do mar
vez ou outra se transformava em arco-íris.
Cada segundo alternava sombra e sol no 
pára-brisa do carro.
É um espetáculo lindo, se observado sem pressa, bem no ritmo das águas que ladeiam a estrada, escorrendo montanha abaixo.
Vez ou outra também, canteiros e mais canteiros naturais de uma florzinha doce, quase angelical, que chamam de Maria sem vergonha.
Misturavam-se em cores rosa, branca, vermelha e umas de cores mais misturadas ainda, 
mais ou menos como a vida da gente.
Dias brancos, dias rosas, e mesmo não querendo, alguns dias vermelhos no meio.
E, pior ainda, comecei a identificar-me também como um Zé sem vergonha.
Olhei pela outra janela.
Tinha um belvedere seguro do outro lado. Estacionei.Desci do carro, apoiei no parapeito.
Aspirei aquele ar macio e fresco...
Deixei meus olhos se perderem nas 
curvas verdes da serra.
Deixei minha alma vagar por entre
os lírios das encostas,
entre pedras e vales salpicados de branco por eles.
Senti minhas pernas bambearem, 
talvez por muito oxigênio, 
talvez pela presença da vida que me tocava.
Senti um amor imenso invadindo meu corpo.
Parecia que um sopro divino me dizia:
 - Se a vida estiver feia e triste 
por uma janela, olhe pela outra.
Certamente, o amor, a luz e a vida irão vencer,
e lhe farão uma pessoa feliz.
Augusto Servano Rodrigues
Enviado por Augusto Servano Rodrigues em 30/10/2007
Reeditado em 30/10/2007
Código do texto: T716845
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