O Bom Escritor
Todo escritor é cruelmente multifacetado e renega. Conta a vida, ouve histórias alheias, profanas ou sagradas e se diverte, entristece, é dual, imprevisível. Presenteia o leitor com o dilema da veracidade, cabe ao leitor a decisão, decisão da verdade? Oh não, a verdade não, ela é ultrapassada demais para estar estampada nos feeds sociais, busca-se o rosto somente o rosto, de preferência a imagem que está no perfil, o sinônimo da plenitude. E ao leitor, cabe a decisão da relevância, meu caro.
Uma história dramática foi contada.
Turbilhões de manifestos.
Postagem real.
Pesado, indigesto.
O escritor diz a verdade, estampa para o leitor uma tese. E a história segue. O escritor passa a ser uma misteriosa fonte, se for Lovecraft então, misteriosíssima, Bukowsky, vixi, fonte amarga, é verdadeira demais, troque a fonte imediatamente, quer doçura e depois ser mordido por um vampiro charmoso, Anne Rice está aí pra quem quiser ver. O que quero expressar nessa crônica de fim de tarde é o seguinte, lemos histórias demasiadamente, mas eu, eu sou exigente, quero história de qualidade, no mínimo relevante. Lê-se postagens diárias através dos feeds que são democráticos até demais, neles lê-se somente o que você está habituado a "curtir", foi predeterminado por você, qualquer tema fora do seu contexto, vai causar estranheza, claro, já imaginou de repente no seu feed floral surgir um anúncio do próximo filme da franquia "The Conjuring" 🖤, ou então, a turnê do Kraftwerk no Brasil.
A beleza da leitura é a relevância e a descoberta, não nessa ordem necessariamente. Se pensou em trocar o título dessa crônica, pelo sujeito "Leitor", também é válido.
Crônicas de fim de tarde (2019)