SE EU TIVESSE CASADO COM ESTELA

   No auge dos meus dezoito anos, em pleno governo militar, vivi um tempo de muitas alegrias e talvez hoje não estivesse contando esta história. Antes de completar 18 eu tinha me alistado na Aeronáutica, fiz os testes mas não passei e fui direcionado para o Exército por decisão do meu pai. Lá quase fiquei, ainda pensei em ficar, mas foi justamente a época que pintou um emprego na área federal, emprego esse no qual hoje sou aposentado. Preferi então o emprego que inclusive foi meu próprio pai quem conseguiu, era onde ele trabalhava, uma repartição pública. Pois bem, nessa época, eu conheci uma garota de nome Estela, um ano mais nova que eu. Começamos a namorar e traçamos planos como qualquer outro casal, porém não tínhamos essa experiência toda e com pouco mais de dois meses rompemos. Namorei então outras garotas até chegar na que hoje é minha esposa.

   Voltemos ao passado para relembrar um fato: dois anos depois de acabar com Estela eu a encontrei casualmente na cidade e paramos para conversar. Ela me confidenciou que namorava alguém mas se eu quisesse ela o deixaria para ficar comigo. Eu achei meio confusa essa história e fiquei na dúvida, pensei seriamente em renovarmos, mas como estava bem com uma namorada dei de ombros e não aceitei, dei uma desculpa qualquer e nunca mais a vi.

   O tempo passou e o assunto foi praticamente esquecido, eu já estava casado e tinha o primeiro filho. Durante uma comemoração de final de ano fui com amigos a um restaurante onde nos divertimos e tomamos bastante cerveja. Uma das pessoas que estava no nosso grupo levou algumas amigas e advinhem quem era uma delas: justamente Estela ao lado do seu namorado. Ela me reconheceu e veio falar comigo. No particular ela disse que esse já era o "n" namorado que tinha e não via a esperança de voltar comigo, o que me deixou bastante sem jeito. Namorava por namorar, mas o pensamento havia ficado em mim, o que de certa forma me deixou lisonjeado. Nos despedimos ali e não mais tivemos notícias um do outro.

   Anos se passaram, já nem lembrava de Estela quando por força do destino um carro parou em minha frente quando atravessava uma rua e me deparei com ela. Sorriu e me convidou para entrar, aceitei, mesmo sem jeito e ela seguiu dirigindo parando em uma praça onde estacionou, me pegou pela mão e praticamente me obrigou a sentar-me do seu lado em um banco num local bastante arejado. Conversamos um pouco e súbito ela me beijou, me deixei levar por aquela emoção justamente num período em que estava em crise com o casamento. Estela me perguntou olhando nos olhos por que nós não havíamos nos casado, eu sinceramente não soube lhe responder. Ela então me abraçou e me levou até o carro, mandou que entrasse e dirigiu por alguns minutos até entrar em um motel. Fiquei surpreso mas topei a parada. Fizemos amor e ela aos poucos foi contando a sua história, disse que estava casada e tinha três filhos. Naquele momento nada pude fazer a não ser tentar acalmá-la, ela que começava a chorar. Como eu estava mais calmo dirigi o seu carro e a deixei onde indicou, próximo de uma bela casa em um condomínio de classe média. Desci do veículo e andei duas quadras até chegar em minha residência onde a esposa me esperava para jantarmos. Fizemos as pazes e mais tarde fizemos amor.

   Longos anos se passaram e não mais vi Estela que mudou-se para outro bairro. O destino enfim nos deu uma trégua, são quase trinta anos sem ver essa mulher, que assim seja.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 24/01/2021
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