UNIVERSO EM DESENCANTO

Uma tênue e fria luz refletida sobre seu rosto, dava-lhe um aspecto doentio e macabro... Seus dedos esqueléticos seguravam o cigarro com certa displicência. Tudo ao seu redor transpirava a podridão do ambiente; como se sua alma impregnasse cada móvel... Cada canto de sua triste moradia.

Absorta em seus pensamentos, nem deu-se conta que o cigarro acabara. Tudo á sua volta lhe era estranho... Era como se suas emoções já não mais existissem, e o que mais desejava no momento era que o mundo acabasse... Com um leve estremecimento, solta o cigarro que já queimava seu dedo.

Queria desesperadamente encontrar dentro de si, algum momento, por mais ínfimo que fosse; a trazer-lhe alegria... Mas nada! Sua vida resumia-se em solidão,vazio,tristeza e desencanto. Será que algum dia, desde o seu nascimento teria sido feliz um segundo que fosse?

Sem motivo aparente, levanta-se sem ãnimo algum... Com passos trôpegos vai até á porta. Abre-a e desce os degraus que a levam ao terreno da casa com um esforço dantesco... Em frente à casa, nota uma morfética roseira,de onde pende uma doente rosa...Em um gesto brusco; sem lógica alguma;escarra sobre a rosa e, sente um certo prazer ,como se estivesse escarrado em sua própria face...

Caminha até o portão. Lentamente o abre e, sem se preocupar em fechá-lo, sai para a alameda sem destino... Sem a mínima idéia de onde quer ir... Como levada por uma força sobrenatural. Caminha sem notar os olhares curiosos que sua triste figura desperta nos transeuntes... O que fazer de minha insignificante existência? Antes mesmo de refletir sobre o assunto; vê-se arranhando o próprio rosto; e isto também lhe transmite imenso prazer...

Não da à mínima importância ao sangue em suas mãos. Já não é mais senhora de suas vontades e de seus desejos. Um sorriso estranho toma conta de sua fisionomia... Para sobre o viaduto... O ultimo pensamento em sua mente agora; era a notícia que com certeza sairia nos meios de comunicação após seu ultimo ato: Extra!Extra!Ex modelo famosa que sofria de anorexia suicida-se pulando do viaduto do chá totalmente fora de si!

Finalmente ela consegue o que queria. Ser novamente notícia. Mesmo sabendo que isso nunca lhe trouxera a felicidade de fato... Nada mais era agora que um monte de pele e ossos estendidos no asfalto. Aguçando a curiosidade mórbida dos seres humanos... E um prato cheio para os meios de comunicação sensacionalistas; abutres a se alimentarem dessa ignomínia atitude atroz... Desse vazio interior que domina nosso “Admirável mundo novo”...

Leilson Leão

Leilson Leão
Enviado por Leilson Leão em 30/10/2007
Reeditado em 31/10/2007
Código do texto: T716706