SER PROFESSOR


Minha cunhada, a Cida, após terminar seu Curso na Escola Normal, que hoje corresponde ao Magistério, foi lecionar na Casa Pia, uma escola administrada por freiras, na Alameda Barros, em São Paulo.

Um emprego muito conveniente pois Cida morava a uma quadra da escola, não tendo que usar qualquer tipo de condução para ir ao trabalho.

Era o final da década de 1950 e ela se dedicava às primeiras séries da Escola Primária, que hoje se chama Ensino Fundamental. Seus alunos eram crianças bem pequenas, de 7 ou 8 anos. Nessa escola, Cida trabalhou até se aposentar.

Contava ela que certo dia, após o toque da sineta para o encerramento da aula, pediu aos alunos que arrumassem seus pertences e fossem saindo da sala, em ordem, sem correrias. Após a saída das crianças, enquanto ela arrumava suas coisas para deixar a escola, notou que uma menininha havia permanecido e acompanhava seus movimentos com o olhar. Quando Cida saiu da sala, a garotinha, chamada Alice, acompanhou-a até o portão, tagarelando.

A professora lhe disse que permanecesse na escola até que seu pai ou sua mãe viesse buscá-la. Despediu-se dizendo, “agora vou para casa, almoçar e descansar, até amanhã, Alice!” E a menininha, candidamente, surpreendeu-a com a pergunta:

“Dona Aparecida, a senhora não trabalha?”

Somente quem já foi professor sabe como essa profissão é desgastante. Eu mesma fui professora por uns poucos anos, para adultos e também para crianças e, terminada a aula, me sentia esgotada. Como Cida, lecionei para crianças bem pequenas, cheias de energia, em sala com 40 alunos. Havia dias em que terminava a aula já sem voz. Além do trabalho na escola, levava cadernos dos alunos e provas para corrigir em casa. Isso, sem falar que as aulas e os materiais a serem usados, devem ser preparados em nosso lar. Então, há muito trabalho extraclasse e só a pequena Alice, em sua inocência, poderia ter feito tal pergunta...


 

Aloysia
Enviado por Aloysia em 23/01/2021
Reeditado em 15/10/2022
Código do texto: T7166898
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