A Porta e o Tempo

E o tempo passou, não sei se depressa ou se eu que tive pressa. Passou como uma brisa, às vezes em forma de tempestades ou será eu não notado no tempo? Mas certo foi o vento soprado, certo foi a força desprendida, certo foi o aprendizado, certo foi a alegria vivida, certo foi a tristeza, mas será a tristeza certa? Com certeza não. Os tempos que passaram nem sempre eram feitos de felicidade. Mas o que é essa tal felicidade? O certo que através dela pensamos que somos felizes. Certa é a nossa ambição, certo é nosso egoísmo, certo é o nosso preciosismo, certo é o nosso instinto fadado de traços de irracionalidade. Então somos seres melancólicos e não sabemos? Não. Somos seres humanos e não nos importamos em SER. Não apenas ser, mas sobretudo valorizarmos a nós mesmos para sermos valorizados pelo fato supremo de existirmos, de vivermos, de emocionarmos e não nos sucumbirmos as mediocridades que atentam nossos caminhos.

Um dia encontrei a felicidade pelo simples fato de ter entrado por uma porta, não a uma porta qualquer, mas iluminada. Minha voz, meus passos quase que imperceptíveis, mas minha imagem abençoada, quase que irretocada, nas minhas mãos o “frio” da insegurança, nas minhas pernas a fraqueza de uma criança. Meus passos largos me conduziam porta a dentro, minha feição já não era tão sisuda à medida que o tempo ia passando. Portas abertas, portas promissoras. O horizonte despertava com a mesma rapidez da madrugada do dia seguinte. O sol reluzia bem mais forte, era o norte, sereno e claro, transparente e nítido como aqueles olhos que me olhavam.

A casa um dia cai, as esperanças, um dia, são aniquiladas, aqueles olhos, um dia, não olham mais. Se fecham, se calam, se desviam e o tempo passa. Passam as conquistas e as derrotas persistem como antes, os espaços são desfeitos e os sonhos desfacelados pedem abrigo. A porta não está mais aberta, e a saída onde estará? Surge então pela primeira vez a noite escura e amendrontadora, meus sentidos dão lugar as incertezas, meus valores são repensados, minha concepção já não é a mesma. O mundo das verdades ditas, são sufocadas pelo silêncio impiedoso. Meus gritos, agora são latentes, são desprezíveis, inconsequentes. Não mais os ouvidos que me ouviram, não mais as vozes que me aliviaram. Não mais os amigos.

Hoje, percebo que portas não fecham, pois não houvera dimensionado nada além dela. Se permaneço no tempo é porque não luto, se não ando é porque não vislumbro aquém de minhas reais possibilidades. Se para amar é preciso romper as barreiras que um coração “insano” insiste em impor... e por que não tentar...? Mesmo aquele que se declara fechado, um dia cede a umas batidas mais forte e se abre para o amor e para a vida. Então nada está consumado, o ato de construir e reconstruir é um teste constante que a vida positivamente nos premeia. Caso contrário a vida seria pobre, previsível e não teria graça nenhuma.
(Em 30.08.99)
Ademar Sandim
Enviado por Ademar Sandim em 21/01/2021
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