SOMBRA E LUZES

Muitas questões têm surgido em minha mente atualmente quando vislumbro o saber como um todo, em sua máxima expressão social, que é meio acadêmico. Da criação de Platão, a Academia surgiu como habitáculo do conhecimento infinito, porém do mundo atual se limita à análise e prática da Tecnocracia.

Ao rever a postura do mundo científico e filosófico atual, causa-me certa decepção a posição do observador da teoria humanista e social como a de um observador diante da “Casa de formigas”, a contemplar o amálgama da vida como quem busca o nada, a formular teorias isentas sobre coisa nenhuma de relevância na vida humana.

E nem digo isto apenas para o Direito, uma vez que este se revelou para mim como nada mais que um anseio por justificar os abusos políticos e sociais do Estado. Não se busca mais a justiça, se é que alguma vez se buscou. O discurso “ordeiro” do Direito, que busca regulamentar toda forma de conduta pelo totalitarismo jurídico, e encontra na sociedade a origem para todas as mazelas humanas.

Quando o jurista diz que a justiça reside na Ordem, na pedra sacra da Lei, é como se disséssemos que o que há de melhor na vida é a morte. É certo que sem o Estado a massa de bárbaros dominaria a vida político-social da humanidade. Mas daí a dizer que a Justiça não existe é tomar de bárbara a existência.

Voltando ao assunto anterior, o conhecimento pleno e a Justiça não podem realmente serem buscadas pelas almas inferiores, uma vez que provêm do Espírito (não me refiro aqui a alguma entidade transcendente divina, mas aquela força que brota da razão e da vontade de vida). Podem dizer que o meu discurso é utópico, mas sem o sonho a existência se enche de vazio.

E não há engano maior que se entregar à uma vida sem sonhos? Na caverna, o Homem aprende a crer que as sombras são a realidade. Liberto dos grilhões, busca a luz. A ilusão é formada pela crença de que os fantasmas e as sombras são reais.

A Humanidade se ampara na lição tomada no Liceu, de que há explicação para tudo na vida. Sou mais acadêmico. Creio que há explicação, mas deixo a verdade me conduzir ao mundo das idéias. E sei que existe um mundo além da vã Filosofia de Horácio. Não um mundo divino ou sagrado. Mas o mundo do Homem, aguardando para ser descoberto. Uma infinidade de sonhos, desejos e conquistas. Podem jurar que a Utopia morreu, mas não enquanto os sonhadores existirem.

O conhecimento atual gira em torno do universo humano, mas relega o próprio Homem à segundo plano. Se Kant estava errado ao buscar a Justiça nas relações humanas, a crença maior que fica é que o Homem não é justo. Mas pelo menos ele achou o marco maior ao buscar o conhecimento infinito, pois aquele que se entrega a buscar o nada e a vislumbrar as sombras como expressão da vida, ainda não se esclareceu, está na menoridade.

Clovis RF
Enviado por Clovis RF em 30/10/2007
Código do texto: T716523