Ah, como é bom ser criança!

Ainda me lembro. Tudo era desafio. Mesmo não tendo nada como prêmio, chegar antes, nossa, era demais! Sempre gostei de ser o primeiro a pisar numa esquina. De longe, ficava observando meus pais se aproximarem, passos lentos, um misto de sensatez e cansaço. Ah, como é bom ser criança! Preocupação: zero. Energia: mil!

Em casa, a escada era enorme. Talvez uns setenta degraus até chegar na rua! Quando alguém chamava, eu saía disparado e, em questão de minutos, estava no portão, atendendo a visita, sem demonstrar nenhum sinal de cansaço.

— Você não cansa? — a pergunta era sempre a mesma. Eu sorria e dizia:

— Não. Já acostumei...Atrás das palavras simples, havia uma satisfação enorme; uma sensação de invencibilidade por conseguir se destacar em alguma coisa.

Ah, como é bom ser criança! Mas o tempo passa rápido demais. Na ânsia de ser adulto e ter liberdade, o fôlego vai embora, a disposição para desafios bobos, ficam guardados em alguma caixa, juntos com os brinquedos, que ninguém vai mexer tão cedo.

Hoje, subir uma escada de quase setenta degraus é tarefa dificílima. Não existe mais vontade de fazer desafios; quero chegar na esquina depois, sem afobação...

Dizem que tudo é fase. Primeiro gastamos energia de sobra, depois vem a fase de poupar energia; cansar só se não tiver outro jeito.

É, deve ser isso. Estou na fase de poupar energia. Desafio agora, só se for para ficar mais tempo em casa e de boa. Ah, como era bom ser criança...

Vander Christian
Enviado por Vander Christian em 20/01/2021
Código do texto: T7164539
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