Fragmento

Quando foi que se perdeu?

A estranheza aos sentimentos me fazia distinta, não chorava e pouco me deixava rir, um robô parecia mais aconchegante ao abraço do que aquela figura de cara amarrada e braços cruzados, os óculos adornavam o nariz redondo que puxava o ar com uma força impiedosa, nervosa.

Os rostos passando me deixavam enjoada, também pudera, tanto tempo sem ver feições se não as minhas, acho que perdi o costume que nunca tive. Não me acostumei, nem mesmo comigo, vivo em desacordo. Marquei um encontro comigo e estou atrasada, uns anos para ser exata, me deixei esperando no chão do meu quarto, ao menos a ilusão de um dia me encontrar mantém viva a ilusão de que vale à pena toda esta espera. Apesar da lástima, passo o tempo inventando desculpas que justifiquem o meu atraso.

Levantei, abracei a pelúcia de infância, chorei as minhas dores e retornei ao chão, nem sempre o levantar é permanente. No quarto, onde é possível sussurrar sem ser ouvido, os problemas ecoam desproporcionais.

Meu corpo gravita em uma órbita de amargura, sou levada até as estrelas e ao chão me resumo, já viu vôo mais raso que este? Ainda angustiada, me faço a caridade de respirar oxigênio, o corpo pede para viver e assim o faço.

Brenda Nascimento
Enviado por Brenda Nascimento em 20/01/2021
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