A seletiva chuva que nos abraça
Chover no Ceará é daquelas coisas assustadoras. Se no interior signfica fartura, açudes cheios, boa colheita para o agricultor, na capital é o caos no trânsito, buracos, nos asfaltos, acidentes e aquela preguiça de deixar para depois todos os afazeres.
A gente até brinca que está em Paris, no frio do Sul do Brasil, apesar de quando chove a temperatura aqui beira aos 23 graus. Frio para gente, calor em boa parte do mundo.
Aos que podem se enrolam na rede e dão aquele cochilo para tirar o sono atrasado. Mas mesmo assim a chuva sempre nos confunde, nos faz pensar. Nos faz refletir o que somos, o que queremos esse ano de 2021. Parece até que estamos vivendo um eterno dejavu.
Muitas coisas parecem se repetir, o medo da morte, da solidão, o medo da fome, da ingratidão. O desejo contido de conquistar o mundo, de alcançar possibilidades imagináveis.
A vontade de gritar, de dançar, de cantar, de amar. Não podemos se limitar ao que a chuva nos mostra. Ela parece querer nos deter. Nos corromper a eterna procrastinação. Mas será que sabemos realmente onde queremos chegar? E alguém sabe onde quer ir?
Ou somos todos passageiros dessa aeronave, em eternas viagens. Presos no tempo e espaço. Desejando sair, descer, como já cantava Raul Seixas: " pare o mundo que eu quero descer"
Não adianta tentarmos fugir estamos destinados a tudo isso. Ao encarceramento, a miopia, aos desejos incontrolados. O máximo que podemos fazer é se aconchegar nos lençóis esperando a chuva passar e depois correr e correr até nunca mais ninguém nos alcançar.