Cárcere da iluminação
A mulher e o homem, entre outras características inerentes a sua personalidade, são passiveis de sentir vergonha. Pela sua natureza sentem-se mais envergonhados perante seus semelhantes que somente os podem ver ao claro, do eu perante Deus, sobre quem cremos ver também no escuro. Por isso a luz nem sempre é bem-vinda. Ela os impede de representar as manifestações, na forma mais sincera e espontânea do seu eu.
Assim, algumas vezes [não poucas], para gozar do supremo prazer diante dos olhos da luz, mulher e homem, precisam fechar os olhos, encerrar a cortina destes, para encontrar no escuro o ponto mais alto do prazer.
Buscar a escuridão é encontrar a luz do outro lao. No inteligível, abandonar o sensível. Do outro lado da escuridão se esconde uma luz ímpar. Disfarçada de escuridão. Inalcançável, senão por aquele que a encontra.
A mulher e o homem, para viver o prazer na sua versão mais natural, mais sincera e pura, necessitarão, algumas vezes, de irromper as grades do cárcere da iluminação. Abraçar a escuridão mais profunda e mais bela. Mais íntima. Só desta forma poderão coreografar as maiores manifestações de intimidade e conservar o direito de se guardar desconhecido.
Por tudo isto, eu te bendigo, oh escuridão, pois o meu bungular de amor, o “poponhar” dos “cavilhangos” o rosto do ladrão, encontram em ti o lugar mais certo, mais belo para existir. O que seria de certos “nós” se tu não existisses, escuridão!
Termino, sobre o paraíso! Seria um lugar iluminado ou escuro? Se prevalece a ideia de um lugar perpetuamente iluminado, não seria um lugar de satisfação para todos. Muitos, escolheríamos a terra, templo dos templos, e com pedaços de escuridão. Mas se por algum acaso precisar habitar nele, queria ser cego. Se nem isso for possível, então foda-se tudo. E tudo é uma merda.