A vacina das ideologias

Mais especificamente a partir do início do século 21, o Brasil foi deixando de ser uma nação no sentido amplo do significado da palavra. A nação não foi apenas dividida. Em algum momento começou o seu processo de desintegração. Esse processo sofreu uma aceleração espantosa com o surgimento das redes sociais.

Foi desde lá, que fomos elegendo populistas para nos governar. Foi desde lá, que confundimos esses populistas com os mitos. Desde então, nenhum desses governos teve qualquer projeto de governo. Eles são incapazes para isto. Todos esses governos eleitos pela maioria dos brasileiros tiveram e têm apenas projetos de poder. A ideia não é governar. É se perpetuar no poder.

O primeiro ato de qualquer populista eleito é dividir o seu país. A melhor maneira de conseguir o objetivo é disseminando o ódio. Se o ódio levar a violência melhor ainda. Governar então se torna fácil. Basta alimentar os seus apoiadores com belas narrativas, e desacreditar os opositores com narrativas feias. As redes sociais cuidam do resto. A imagem do mito precisa permanecer intacta. Necessário, chama-se até Deus para ajudar.

Donald Trump tentava fazer exatamente isso com os Estados Unidos. As belas narrativas. A explosão do ódio racial. O canal da desinformação. De repente, nas redes sociais brasileiras vimos desabrochar milhares de “especialistas” em política americana compartilhando as fake news que chegavam de lá. Os americanos decidiram dar um basta no populista Donald Trump pelo voto.

Na contramão, o Brasil já entrou na sua terceira década elegendo, governado e dividido por populistas. O máximo que conseguimos foi sair da esquerda rumo à direita. O modo de como se governa permanece o mesmo. Nenhum projeto de governo para o país. Apenas projeto de poder. Aas narrativas feias e as bonitas. O ódio sendo espalhado de Sul a Norte. Deus invocado para ajudar.

Quando a pandemia colocou uma máscara nos humanos, os populistas logo trataram de ridicularizar a ciência. A Covid-19 foi rebaixada a um dodói. Alguns populistas se travestiram de médicos receitando remédios para a cura. Os infectados, os mortos, tudo não passava de uma grande mentira inventada. O negacionismo provocou ecos férteis na ignorância, também explorada com perspicácia pelos populistas.

Com pompas e holofotes, neste domingo o Brasil entrou no mapa mundial da vacina contra a Covid-19. Para não ficar atrás do governador, o ministro da Saúde armou o seu palanque na segunda-feira em Guarulhos. Quem perderia uma chance dessas?

Estranho e assustador. Com a vacina o que se discute na mídia não é a ciência ou a saúde. Discute-se para quem a vacina dará vantagem na eleição de 2022. A vacina “não é do Brasil” ou dos brasileiros. É das ideologias que dividiram o Brasil.