Um Marco Nada Casual

No dia que a vacina do Covid-19 é aplicada na primeira brasileira, enfermeira, trabalhadora da área de saúde pública, eu venho compartilhar a história de mais uma brasileira que fervorosamente pede uma solução, eu!

Após mais de vinte anos lutando contra falsos diagnósticos e com um real mal estar que parecia permanente, descobri em 2017, que tenho Lúpus Eritomatoso Sistêmico e que em virtude disso, preciso ter uma vida de cuidados e alertas.

Diagnóstico recebido com êxito, tudo porque uma médica de um convênio privado, estudiosa e ligada a pesquisadores do Hospital das Clínicas em Recife, não se contentou em me deixar com um resultado falso positivo, que ao seu ver já era indício de doença autoimune.

Foi bem assim, passei por uma junta médica em dia de reunião clínica entre médicos e alunos, fui o case da vez. Eu tinha Lúpus (LES) em quase todas as formas manifestando-se no meu corpo severamente, após umas 3 ou 4 horas de consulta e análise, bum! O diagnóstico era claro, eu sabia o que tinha, era grave, podia me matar, me invalidar, mas eu agora era consciente de tudo isso, e estava aliviada.

Após anos de infecção cutânea, uma pneumectomia total (retirada) de um dos pulmões, uma hérnia diafragmática causada por aderência no tórax e uma doença mista do tecido conjuntivo não especificada, que já me levava a tomar hidroxicloroquina desde 2013, além de muito corticóide, eu sabia exatamente o que tinha, uma luz no fim do túnel.

Não podia apagar todo doloroso histórico com borracha, mas podia seguir em frente, e assim foi, sai daquele complexo hospitalar de referência destinada ao tratamento necessário, agora eu me salvaria, era a principal personagem daquele drama.

Então me cerquei de todo aparato necessário e possível, com 6 meses de medicamentos, exames, consultas, dieta e certa mudança de vida, eu já iniciava minha remissão, o controle da doença, e voltava a ter ânimo.

Era como se eu colocasse a cabeça na janela e visse passar um filme: realização de universidade enferma, conclusão em recuperação de traumas clínicos, anos de trabalho em condição física capenga, uma busca incessante de força para ser feliz, para não prejudicar minhas relações, para sorrir como sempre amei fazer.

Jamais abandonei o trabalho, fiz disso e dos estudos combustível para me motorizar. Lembrava até da frase que falei para o cirurgião torácico que me operou em 2009, "Eu não nasci para morrer por covardia, me opere doutor!" Eu sabia que já era estratégica, mas o quanto de fé eu tinha, fui descobrindo ao longo dos anos, através de cada passagem e desígnio.

Finalmente é chegado o ano de 2020, eu comemoro o terceiro ano de saúde intacta após o diagnóstico da minha autoimunidade, realizando atividade física, trabalho, estudos, vida familiar e com amigos em harmonia, vida tinindo e como diz meus médicos, "você está ótima, nossa paciente modelo master".

Em dezoito de março de dois mil e vinte, estou trabalhando e sai um decreto, na mesma hora sou liberada para ir para casa, me encontro no grupo de risco e preciso obedecer às normas.

Tempo difícil, mês pós mês, muita higiene, cuidados, desgaste físico e emocional, vida familiar e profissional conjugadas, um home office as vezes tranquilo as vezes cansativo, um desafio, e tudo o que mais os médicos alertam piscando na minha mente, "saúde mental, gatilho para crise de doenças autoimunes".

Imagina o que é você ser crônica pulmonar e crônica autoimune, e se ver no meio de uma pandemia de corona vírus tentando sobreviver? Qual cabeça aguenta isso? Aah... a minha tem suportado com muito esforço, mas tem se mantido, minha só não, minha e de muitas outras pessoas no Brasil e no mundo.

Agora imagina o que é a notícia de uma vacina para mim e tantos outros, que como eu lutam com unhas e dentes para sobreviver, acreditando numa vida saudável, de oportunidades e feliz?!

Oh céus! Meu Deus! Minha esperança não vai ser adormecida agora, não nesse momento, eu sei, eu posso e vou continuar confiando na vitória daquele que é corajoso, honesto, batalhador.

E tudo faço e sinto porque a vida é bela e merece ser desfrutada, ornada de felicidade. Vi companheiros partirem, vi pessoas se contaminarem e sucumbirem, mas tenho visto também gente de todo canto numa corrente de fé, de bravura, e se determinando a permanecer de pé.

Assim estou e estarei porque minha dose diária de cura eu recebo assim que amanheço e desperto para um novo dia.

Me chamo Carla, sou cidadã desse mundo, quebravel e frágil como todas as pessoas, mas também sou forte, sou destemida e não vim pra questionar, mas para conhecer e percorrer o meu caminho. Só preciso de uma chance!

CarlaBezerra

Divina Flor
Enviado por Divina Flor em 17/01/2021
Reeditado em 17/01/2021
Código do texto: T7162181
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