Motim digital

Epa!

Como foi isso?

Meu cérebro mandou digitar 2020.

Um lapso.

Já estamos no 16 de janeiro de 2021.

Já digitei muitas vezes 2021.

É verdade, algumas vezes ia digitando 2020.

Mas lembrei a tempo.

Corrigi, 2021.

Mas desta vez foi diferente.

Errei, e não me lembrei.

O cérebro mandou digitar 2020.

Esquecido.

Mas os dedos digitaram 2021.

Subverteram ordem do cérebro.

Um motim?

Os dedos já aprenderam que estamos em 2021?

E deduzem que qualquer data deva ser 2021?

Corrigem então o suposto equívoco do cérebro?

Claro, um cérebro velho, cansado, falível.

Os dedos, sem nenhuma artrose.

Seriam eles os amotinados?

Ou a contraordem não foi dos dedos?

Um obscuro intermediário entre o pensar e o agir?

Entre o neocórtex e os dedos?

Que deve estar vigilante.

À espera de um sinal do predomínio das falhas.

Haveria então a insurreição mor.

Alienação.

Epa, nada disso!

Faço questão.

Apago o 2021 digitado sem comando.

E de novo vou escrever, 2021.

Agora envio do cérebro aos dedos:

2020.