DUAS PARTES

Há dois de mim morando dentro de um corpo. Há uma parte cheia de sonhos, ardente e amparada pela forte energia motriz da vida, chegando a passear nas entrelinhas de papéis rabiscados, feito furacão inconveniente. Há outra parte, esta nem tão boa, repleta de raiva, rancores e sedenta por vingança, sanguinária, perversa, vil... Essa é a sombra demasiada mortal que habita naquele invólucro perspicaz.

Deixo-me entreter no balanço das atividades que me movem e balançam seres completamente diferentes, ou quiçá, talvez sejam mais iguais ainda. Queria poder externar muito bem todas as facetas, mas, lógico, seria preso. O mundo ainda não está preparado para ver quem sou. Talvez nem eu esteja ansioso por isso.

Para o que ou para Quem eu rezo, é problema meu, e enquanto escrevo palavras em versos repetidos, minha mente voa igual a um albatroz. Oceanos moram naquele corpo já citado, e dentro dele há um vulcão fervente igual a temperatura do inferno.

Essa é a maravilha de ser quem sou: Adjetivos em cima de adjetivos... Sejam elogios ou críticas, estou vivo, enquanto decomponho o outro corpo que habitei, num ciclo infinito que se renova na constância imprópria das manchas escuras deixadas no passado. Enquanto me reinvento, some qualquer dúvida. Encontro-me em mim e para mim, sem medos simbólicos.

Hivton Almeida
Enviado por Hivton Almeida em 15/01/2021
Código do texto: T7160557
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