Festa no céu

     1. Não, não me refiro ao céu conhecido como a morada de Deus. Portanto, a festa não é pela chegada de alguém que, pelo seu comportamente exemplar na Terra, adquiriu o irrecusável direito a uma eternidade privilegiada. Sejas bonzinho na Terra e ganharás o céu. Não é assim que se diz por aí?
     
2. Quando digo festa no céu, refiro-me ao céu que da Terra se vê. Lá onde passeiam o sol e a lua; os planetas e os cometas; lá onde brilham as estrelinhas, com suas magnitudes, enfeitando as noites escuras; lá de onde vem a chuva, anunciada por coruscantes relâmpagos e ensurdecedores trovões que, em alguns, dá medo; lá onde brilha, com extrema rapidez, a estrela cadente que, às vezes, assusta.
     
3. Digo e repito: sou um admirador permanente desse céu que vos falo. Para mim, é o único céu que de fato existe. Sem querer contrariar os que creem no céu onde mora Deus e até da existência do inferno, a residência de Lúcifer, o anjo rebelde, o cão, o capeta, o diabo.
     
4. Quando afirmo que tem festa no meu céu, tenho minhas razões.  Vejam. Nossos astrônomos, em curiosas previsões,  anunciaram a chegada de belíssimos espetáculos siderais em 2021. E o melhor: que nós, os terráqueos, poderemos vê-los sem pagar um tostão e sem ajuda de instrumentos.!
     
5. São muitas as atrações anunciadas. Um show atrás do outro. Assim, de acordo com nossos astrônomos, ao longo deste ano teremos três superluas, quatro eclipses, chuvas de "estrelas cadentes", que já aconteceu, chuvas de meteoros e conjunções entre planetas. 
     
6. A primeira conjunção, entre os planetas Júpiter e Saturno, começou em dezembro de 2020, mas permaneceu no céu de 2021, vista sempre ao cair da tarde; a caminho do poente. Como apareceu em tempos natalinos, os sonhadores logo disseram que era o retorno triunfal da "Estrela de Belém". Se foi, eu vi.
     
7. Como dizem os nossos matutos (no Nordeste é matuto) pertinazes observadores do céu, eu tembém "apreceio" as belezas do firmamento, obra de Deus ou dos deuses. Por isso, vivo sempre a espiá-lo, transformando-o em fonte de inspiração. Camille Flammarion (1841-1925) festejado astrônomo, afirmou: "Nada impele tanto ao devaneio como a contemplação do céu".
     
8. Existe, por exemplo, coisa mais surpreendente do que a "estrela cadente"? Assusta, porque a gente, aceitando-a como uma estrela rebelde, acha que ela vai cair no nosso quintal, provocando estragos irreparáveis. No mínimo, uma cratera.
     
9. Olha, eu disse, aceitando a cadente como uma estrela. Sim, porque para os astrônomos, a cadente não é uma estrela, ou um outro astro qualquer.  Não me interessa se a cadente é ou não uma estrela. Continuo a admirá-la com meus olhos de criança. Isso me basta. Discutir sua natureza, é mais uma preocupação que não quero ter.
     
10. O saudoso professor Malba Tahan, muito querido, no seu livro "Belezas e Maravilhas do céu", transcreve esses versos do poeta Zeno Cardoso, contando como viu o cair de uma estrela" e era uma cadente: "Caminhando num campo enluarado/ via uma estrela, qual ígnea serpente/ despenhar-se da abóbada fulgente/ de um céu todo de astros cravejados". 
     
11. Que venham, pois, as atrações celestiais prometidas e anunciadas pelo nossos astrônomos. Que venham muitas "estrelas cadentes".
     Elas serão sempre bem-vindas.
     Elas me assustam, mas eu gosto delas.   
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 15/01/2021
Reeditado em 16/01/2021
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