As histórias quase nunca variam
Se nós repararmos bem e nos forçarmos a refletir para sair da zona de conforto, perceberemos que os depoimentos prestados pelos “convertidos” quase nunca variam. Quem assiste a programas evangelizadores ou frequenta templos evangélicos, percebe que os testemunhos dados pelas pessoas têm histórias parecidas. Eu mesma já vi muitos desses depoimentos. As pessoas falam muito de como antes “viviam para o mundo”, andavam “ perdidas” sem rumo na vida e, ao se converterem, têm suas vidas restauradas. Vários são os testemunhos de gente que tinha problemas familiares - como violência doméstica, filhos desobedientes e adultério - drogas, alcoolismo e se restaurou. Aliás, não são raros os depoimentos de quem confessa que era satanista até ser chamado a servir Jesus e se retirou dos caminhos obscuros ou era homossexual e se tornou heterossexual graças à misericórdia divina.
Entre os muitos depoimentos, houve um que me chamou a atenção. Era de uma mulher que antes era traficante e, um dia, quando dois traficantes estavam a ponto de mata-la com um tiro na cabeça, sobreviveu porque começou a orar bem alto. Então, ela compreendeu que Deus a havia chamado e, junto com o marido, passou a “seguir Jesus”, contando que ajudava inclusive homossexuais a se “tornarem homens” de novo.
Para mim, os depoimentos mais chocantes eram os de que confessavam que haviam sido satanistas ou luciferianos e deixaram de servir ao “Inimigo” após supostas revelações que os chamavam para servir a Cristo. Um deles – durante o tempo em que frequentei a Igreja evangélica – falou que fazia coisas como violar túmulos e sacrifícios de animais, acrescentando inclusive que conhecera muitos artistas e políticos que tinham feito pacto com o demônio para obter sucesso.
Hoje, eu acho estranho que tantas pessoas tão diferentes tenham histórias tão parecidas e me pergunto se tais pessoas não eram pagas para dar tais testemunhos, que dão a impressão que qualquer pessoa que não seja evangélica é uma perdida que vive uma vida vazia e desregrada, afinal, não há nada que prove que quem não tem religião seja uma pessoa automaticamente promíscua e que não saiba levar uma vida correta. Não é porque uma pessoa não frequenta uma igreja, não ora e não acredita em Deus que ela será consequentemente uma pessoa desajustada.
Um fator que me levou a duvidar da veracidade desses depoimentos foi observar que muitos pastores e fiéis das igrejas tinham vidas altamente problemáticas, com filhos viciados em drogas, cônjuges adúlteros e desavenças no ambiente doméstico. E muitos desses pastores traíam suas esposas ou eram traídos por elas.
Atualmente, tenho quase certeza de que esses testemunhos eram planejados de forma a fazer os fiéis acreditarem que milagres ocorreriam em suas vidas, pois ficava subentendida a seguinte mensagem: “Se Deus fez maravilhas na vida de Fulano, irá fazer na sua. Tenha fé irmão, e acredite que Deus o cobrirá de bênçãos.”