Roupa de festa
Meu pai era tintureiro.
Lavava e tingia roupas no quintal de casa. Tinha uma mesa de madeira,um balde grande,um tanque sempre limpinho onde esfregava as roupas.Ah, tinha escovas,para esfregar o sabão.Misturava a tinta no balde, do jeito que bem sabia fazer, e as calças jeans, os paletós, as calças que ele chamava"sociais",enfim, ganhavam cor e brilho.
Meu pai era tintureiro, e sua figura pequena, preto bonito, falante,fazia jus ao apelido de Socó, um dos passarinhos mais bonitos! Lavava e passava as roupas com um ferro de passar, pesado,que guardamos ainda hoje.
Minha mãe era linda Lourdes, olhos claros, branca ,andar elegante sempre, fala delicada, mãe dedicada. Cozinhava um feijão, que até hoje sinto o cheiro .Era brava,em sua calma,e fez de nós pessoas do bem .Dignidade ficou como herança.
Hoje me recordo de meus pais, nesta madrugada insone.Um fato me levou a pensar neles _ a nossa saúde.As vacinas que religiosamente tomamos ali no Centro de Saúde,sem firulas,sem alarde, diuturnamente.Seguimos todas as campanhas.
Daqui há alguns dias, eu vou tomar assento, como diria minha mãe,para ver a primeira pessoa a ser vacinada no país.A única certeza é a emoção.Será um registro histórico . Eu peço a Deus que me mantenha com saúde, aguente firme até que a imunização tenha início.A vacinação cria barreiras que irão se formando,na medida do público atingido Quanto mais pessoas, maís seguros ficaremos, gradativamente.
Será um dia de festa. Festa e lembrança de tantas pessoas que não terão esta chance. Muitas cadeiras estarão vazias nas salas,nas casas, nos bares, nas ruas que aclamarão a luta pela Vida.
Meu pai Socó, minha mãe dona Lourdes, terão seu brilho acompanhando tudo ,de algum lugar do Universo.E junto, aplaudindo,uma estrela, a mais linda de todas as flores, minha filhinha querida.
Mãe e pai, comecei lembrando vocês!
Mãe e pai, sua benção!
(Nádia Monteiro da Silva)