Só coincidência, garanto-lhes
Um dia, quando tudo isso passar, alguns de nós - aqueles que sobreviverem - sentarão e contarão para filhos e netos o que foi o ano de 2020 e como foram resgatados por uma vacina em 2021.
Lembrarão de um vírus implacável que fez milhares de mortes no mundo sem distinguir classe social, cor da pele, orientação sexual, se eram broncos ou sábios.
Virá a memória ainda, a postura de algumas autoridades, que prepotentes, não colaboraram em nada para que o vírus não se espalhasse. Pelo contrário negaram a seu poder de disseminação e de letalidade. Trataram a doença com descaso: gripezinha, refriadinho, vai passar logo... Diziamm que a mídia era a grande responsável pelo pânico em que o mundo se encontrava. Assim, viram muitos corpos serem colocados em contêineres, enterrados sem velórios e sem o último adeus. E sem ter com explicar o que estavam presenciando responderam um simples “e daí?” Todos vamos morrer um dia!
O mundo se despedia de pobres e ricos, muitos atores deixaram o palco, muitos profissionais da saúde foram pegos de surpresa tentando salvar vidas. Eles também deram adeus ao mundo, as suas famílias, fizeram muito, salvaram muitos, mas perderam a guerra para o vírus.
Todos temos uma bruxa dentro de nós. Queremos poder transformar momentos ruins em bons. Gostaríamos de ter uma varinha mágica que mudaria tudo. Seria permitido festas, viagens, abraços, beijos... as autoridades seriam responsáveis, teriam em mente o que é bom para o povo, a vacina seria 100% eficaz e não teria que ser negociada com desdém.
Como seria bom ter um caldeirão, onde pudéssemos cozinhar os males do mundo transformando-os em altruísmo. As pessoas entrariam no caldeirão com todos os seus defeitos, irracionalidades, preconceitos... e sairiam de lá renovadas com outro aspecto e outro espírito. Até quem apoia armamento, as fake News, faz apologia ao estupro, injuria racial, faz críticas declaradas a gays e lésbicas, é irresponsável e negacionista sairia de lá renovado, pronto para enfrentar o debate sem lamurias e agressividade...
Será que o que eu disse lembra alguém em específico? Antes de vocês se lembrarem de alguém, eu lhes informo “qualquer semelhança é mera coincidência”.
Nália Lacerda Viana, 12de janeiro de 2021