Melancolia em dias de isolamento

Eu abro a minha biblioteca, encontro a melancolia e o alcoolismo a brindarem. A escuridão que habita em mim é refletida em meus olhos e pela janela ventos taciturnos entram para bailar comigo num compasso lento. Era a última dança. A despedida não teve explosões no enredo, e no fim, a donzela hibernou eternamente sem que o príncipe a resgatasse com um beijo.

Em frenesi como o cavaleiro andante, a amada era do campo imaginário e os moinhos de ventos se erguiam na alma. Talvez, vagasse pelas ruas do Rio de Janeiro a procura do único olhar que entenderia o âmago daquele ser, o mesmo que arrebatou Lispector. No quarto metamorfoseava-se como Gregor e visitava o inferno de Dante, sem a companhia de Virgílio ou de Beatriz. O veneno já corria nas veias, de tal forma, como na pobre donzela que Flaubert escreveu o seu triste fim.

A verdade é que o amor é utopia! Saciam a carne e empobrecem a alma, até a beleza da palavra lascívia na dança palatal se tornou escárnio para os não românticos. Os últimos ultrarromânticos entram em extinção com a banalização de amores dispersos, ausentes e insuficientes. Disseram que o amor estava na vida, discordo, às vezes é necessário convocar a simbologia da morte para que o renascimento aconteça. Deveríamos entender que esse caminho inicia dentro da subjetividade de cada um.

Li a tua história com entusiasmo, na primeira página já desvendei seus segredos, pensei que era copiloto do avião, não se tratava de protagonismo e sim de cumplicidade. Eu te li minuciosamente, mas você não meu leu. A história esfriava junto com o café. O clímax não te instigou, emergia agora na Mitologia Grega, me senti como Ícaro e do mais alto dos céus fui para as profundezas do mar.

Entre idas e vindas, encontros e desencontros a lucidez me envolvia e desejava que o álcool percorresse meu corpo, que fosse combustão para a minha explosão. Me perdia no que lia, ora tratava-se de utopia, romance, horror, drama, toda essa intergenericidade confundia-me, dava espaço apenas para melancolia, talvez se eu não tivesse lido Bettelheim ainda acreditaria nos contos de fadas.

Mas, mesmo assim, dentre todas as leituras que já fiz, a minha favorita ainda é ler você!

Jorge Barbosa

11/01/2021

Jorges Barbosa
Enviado por Jorges Barbosa em 11/01/2021
Reeditado em 17/10/2023
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