O nosso Lula
Ainda bem que o nosso Lula nunca se declarou bolivariano.
Disse uma vez, é verdade, que existe excesso de democracia na Venezuela, mas felizmente não chegou a ameaçar o cidadão brasileiro com a disposição de pôr em prática as lições excessivo-democráticas do país vizinho. Notem que o nosso Lula tem sempre um sorriso giocondo nos lábios ou uma ruga divertida no entrecenho quando lhe perguntam sobre liderança latino-americana. Pelo sorriso ou a ruga, dá para sentir que ele não abriga no peito a menor dúvida quanto a isso.
O irritante, porém, é que já contamos com muitos intelectuais de esquerda (assim autoproclamados), republicanos confessos para a arquibancada e de algum modo influentes nas coisas do governo, que não dormem em paz sem antes acender uma vela para Hugo Chávez.
"Quando o homem sobe ao palanque", dizia-me ontem na Rua do Tingüi um enfezado simpatizante do PCdoB, "é puro êxtase, puro carisma, pura fascinação."
Pelo jeito deve dar vontade de cair de joelhos. Ou de babar na gravata, como diria o grande mestre.
"Não me leve a mal", respondi, "sou mais o Flamengo e o samba."
Leio agora no jornal que a Justiça venezuelana acaba de multar em 19,6 mil dólares um humorista que ousou publicar uma piada sobre o governo chavista. Alarmante. Com essa moda entre nós, Lula não precisaria mover sequer uma palha para aprovar a prorrogação da CPMF. O que não iria faltar era humorista brasileiro, e dos bons, tirando os olhos da cara para pagar caminhões e caminhões de multas.
Ainda bem que o nosso Lula nunca se declarou bolivariano.
[30.10.2007]