Criança pode trabalhar?
Nascidos na roça, quatro homens e duas mulheres, desde criança começamos a trabalhar. Tínhamos de cuidar dos animais e da agricultura de subsistência. Para isso precisávamos
acordar cedinho para os trabalhos proprietários, antes de irmos para escola, também na área rural. Outros trabalhos ficavam para a parte da tarde. E nossos pais já diziam: "se mais tarde vocês quiserem ir para a cidade é preciso estudar". E a minha mãe ainda acrescentava: "o bom mesmo é arranjar emprego no governo. Tá garantido para a vida toda".
Apenas o irmão caçula já tinha tendência para negócio. Ainda criança abatia animais de pequeno porte, como bode, carneiro e porco, e ia vender na cidade, no estilo porta a porta. E chegava a oferecer ao próprio Juiz de Direito: "Doutor, hoje eu tenho um bodinho muito bom. Vai querer?"
Se fosse hoje ele intimaria o pai, por permitir criança trabalhar.
Pelo contrário, além de comprar semanalmente, ainda o elogiava: "eta menino danado, dessa idade e já tão interesseiro...!!!"
Quanto aos outros irmãos homens, todos seguiram o conselho da mãe. No meu caso, depois de 18 anos, deixei o emprego público e fui para uma empresa de economia mista, onde me aposentei.
Minhas duas filhas, já nascidas na cidade, devem ter pensado assim: "se meu pai, que nasceu na roça, chegou aonde chegou, nós não vamos desperdiçar as oportunidades que a cidade pode nos oferecer".
Fizeram suas graduações, mestrado e doutorado. Seguiram a minha modéstia filosofia: "Trabalho e estudo são as melhores fontes de realização do ser humano". E aquele matuto, suas filhas e netos, curtem hoje a beleza do "Paraíso das Águas", como é conhecida a nossa Maceió, um importante destino turístico do Nordeste.