DONA EMILIA
(Da série:Meus tipos inesqueíveis)
Magérrima, baixinha, cheia de energia.
Assim era aquela polaquinha idosa a quem todos queríamos muito bem.
Duas vezes ou mais ao mês, ela aparecia no estabelecimento em que trabalho para adquirir sempre os mesmos produtos: Fumo em corda, fumo em pacote, palhas para cigarro e, eventualmente, algumas carteiras de cigarros de papel.
Sempre com sua inseparável bolsa - sua marca registrada - que merece uma ligeira descrição.
Era uma bolsa artesanal, revestida de um plástico grosso e transparente. O fundo era branco e entre o fundo de tecido e o plástico que o revestia, um grande girassol e duas margaridas se destacavam. O zíper levava um acabamento em foma de franja e assim, impossível era não perceber a discreção na bolsa da velhinha.
No dia 28 de cada mês, pontualmente - assim que recebia sua aposentadoria - era a primeira figura que adentrava à loja e reclamava quando havia algum pequeno atraso na abertura da mesma.
Esse era também o dia da troca de agradinhos. A idosa trazia sempre algum produto de sua lavoura e à sua espera, costumeiramente estava um frasquinho de lavanda numa sacolinha artesanal produzida a partir de caixas de leite, todas empiriquetadas que Nena e eu, confeccionávamos exclusivamente para brindar algumas clientes especiais.
Deixava seu embrulho de vagens, tomates, milho verde, batatas...E saía faceira com a sacolinha de perfume nas mãos.
Numa certa ocasião, dona Emilia exagerou na quantidade de mandiocas com o que me presenteou.
Agradeci e pensei com meus botões: Perdão dona Emilia ! Mas desta vez não vou levar seu presente , é volume demais para se carregar a uma distância considerável até onde moro.
Assim,presenteei o primeiro cliente que apareceu na sequência.
Ela só voltaria após uns quinze , pensei comigo, não haveria de lembrar das mandiocas.
Que nada ! Por força de um imprevisto,uns tres dias depois eis que dona Emília e "sua bolsa" adentram à loja.
-"Fumérro !"- Era assim que ela me chamava, na tentativa de dizer "Fumeiro" - "cuméu (leia-se "comeu" rsrsr... mandiocas ?"
Sim ! Dona Emília.Estavam uma delícia ! Respondi a ela na maior cara de pau.
-"Érra branca ou amarréla ?"
[Jesús amado ! E agora ? Pensei comigo]
Num átimo apliquei uma tremenda safadeza:
Olha ! Dona Emília. A Nena colocou tanto extrato de tomate que não deu nem pra ver a cor da mandioca. Tudo o que sei é que estavam muito boas!
- "Crréédo ! I num deu azia ?"
Só um pouquinho minha amiga, só um pouquinho rsrs...
Dia vinte e oito de dezembro, sua irmã, muito tristre veio pagar a continha da mana.
Dona Emília surpreendera a todos, empreendendo a grande viagem alguns dias antes do natal.
Senti um aperto no peito, uma saudade doída e a certeza de estar perdendo mais uma de minhas melhores referências.
Uma estrela a mais irá brilhar em alguma constelação, certamente.
Fica a lembrança daquela senhorinha que adentrava lépida com sua bolsa "exclusiva" pendurada naquele braço magrinho, a dizer-me:
-"Fumérro ! Tá bonzinho ?"
(Da série:Meus tipos inesqueíveis)
Magérrima, baixinha, cheia de energia.
Assim era aquela polaquinha idosa a quem todos queríamos muito bem.
Duas vezes ou mais ao mês, ela aparecia no estabelecimento em que trabalho para adquirir sempre os mesmos produtos: Fumo em corda, fumo em pacote, palhas para cigarro e, eventualmente, algumas carteiras de cigarros de papel.
Sempre com sua inseparável bolsa - sua marca registrada - que merece uma ligeira descrição.
Era uma bolsa artesanal, revestida de um plástico grosso e transparente. O fundo era branco e entre o fundo de tecido e o plástico que o revestia, um grande girassol e duas margaridas se destacavam. O zíper levava um acabamento em foma de franja e assim, impossível era não perceber a discreção na bolsa da velhinha.
No dia 28 de cada mês, pontualmente - assim que recebia sua aposentadoria - era a primeira figura que adentrava à loja e reclamava quando havia algum pequeno atraso na abertura da mesma.
Esse era também o dia da troca de agradinhos. A idosa trazia sempre algum produto de sua lavoura e à sua espera, costumeiramente estava um frasquinho de lavanda numa sacolinha artesanal produzida a partir de caixas de leite, todas empiriquetadas que Nena e eu, confeccionávamos exclusivamente para brindar algumas clientes especiais.
Deixava seu embrulho de vagens, tomates, milho verde, batatas...E saía faceira com a sacolinha de perfume nas mãos.
Numa certa ocasião, dona Emilia exagerou na quantidade de mandiocas com o que me presenteou.
Agradeci e pensei com meus botões: Perdão dona Emilia ! Mas desta vez não vou levar seu presente , é volume demais para se carregar a uma distância considerável até onde moro.
Assim,presenteei o primeiro cliente que apareceu na sequência.
Ela só voltaria após uns quinze , pensei comigo, não haveria de lembrar das mandiocas.
Que nada ! Por força de um imprevisto,uns tres dias depois eis que dona Emília e "sua bolsa" adentram à loja.
-"Fumérro !"- Era assim que ela me chamava, na tentativa de dizer "Fumeiro" - "cuméu (leia-se "comeu" rsrsr... mandiocas ?"
Sim ! Dona Emília.Estavam uma delícia ! Respondi a ela na maior cara de pau.
-"Érra branca ou amarréla ?"
[Jesús amado ! E agora ? Pensei comigo]
Num átimo apliquei uma tremenda safadeza:
Olha ! Dona Emília. A Nena colocou tanto extrato de tomate que não deu nem pra ver a cor da mandioca. Tudo o que sei é que estavam muito boas!
- "Crréédo ! I num deu azia ?"
Só um pouquinho minha amiga, só um pouquinho rsrs...
Dia vinte e oito de dezembro, sua irmã, muito tristre veio pagar a continha da mana.
Dona Emília surpreendera a todos, empreendendo a grande viagem alguns dias antes do natal.
Senti um aperto no peito, uma saudade doída e a certeza de estar perdendo mais uma de minhas melhores referências.
Uma estrela a mais irá brilhar em alguma constelação, certamente.
Fica a lembrança daquela senhorinha que adentrava lépida com sua bolsa "exclusiva" pendurada naquele braço magrinho, a dizer-me:
-"Fumérro ! Tá bonzinho ?"