Rock: a música do diabo

Eu ainda lembro do dia em que estava numa banca de revistas, resolvi folhear uma que falava sobre famosas bandas de rock e acabei mostrando a capa a uma senhora que estava ao meu lado, apontando a cara do vocalista, dizendo:

-Ele tem uma cara de moça, não é?

Ela respondeu assim:

-É, muitos desses roqueiros são homossexuais.

Perguntei se ela o conhecia e ela disse que não, pois não gostava de rock pelo fato de não cantarem coisas de Deus. Eu respondi que gostava, desde que fosse rock de qualidade e, sem entrar nos detalhes da conversa, digo que tivemos um longo diálogo, em que ela ficou horrorizada ao saber sobre como eu usava músicas de rock para aprender inglês. No final, aconselhou-me a praticar inglês ouvindo músicas de louvor.

A conversa que tive com a senhora me fez lembrar como os evangélicos consideram o rock uma música do diabo. Assim como a senhora com quem conversei, outra – citada no texto Por que deixei de ser evangélica – me aconselhou a não ouvir rock porque toda música de rock teria um diabo escondido, dizendo que essa era a razão de Cazuza ter morrido de aids. Hoje, ao pensar nisso, eu apenas rio do preconceito das pessoas em relação a um ritmo que há gerações encanta os jovens e que nunca envelhecem.

Eu sempre ouvi que certos músicos teriam feito pacto com o diabo, como Ozzy Ousborne, Marilyn Manson e que certas bandas, como o Iron Maiden e Rolling Stones seriam abertamente satânicas. No caso do Iron Maiden e do Rolling Stones, certamente o fato de terem músicas como 666- The number of the beast( 666- O número da besta) e Sympathy for the devil (Simpatia pelo demônio) ajudou a alimentar esses boatos que nunca foram provados.

O que muitos não sabem é que o rock, embora tenha se consagrado graças a cantores brancos como Elvis Presley, é uma música de raiz afro-americana, derivando diretamente do soul e do blues, dois ritmos musicais negros. E sabemos muito bem que os negros que viviam no sul dos Estados Unidos cantavam as suas tristezas nas igrejas. A partir dos “spiritual”, isto é, dos hinos que eles cantavam durante os cultos, eles foram criando ritmos como jazz, soul music, blues e rock. Como podemos ver, o rock na verdade é cria direta das músicas cantadas nas igrejas dos negros.

Ainda que Elvis Presley seja considerado o rei do rock, atribui-se a criação a uma senhora negra, Sister Rosetta Tharpe, cantora, compositora e guitarrista de música gospel que se tornou popular durante os anos 40 e misturou as letras gospel com blues e country music, juntando o gospel com o ritmo que se tornou conhecido como rock e até hoje é popular em todo o mundo. Aliás, essa senhora influenciou Elvis Presley – que também gravou várias músicas gospel – Jerry Lee Lewis e Aretha Franklin.

Hoje, ao pensar em rock, pensamos em artistas e bandas como U2, Gun’s n Roses, Rolling Stones, Alice Cooper, Iron Maiden, Legião Urbana, Barão Vermelho e tantos outros artistas, ignorando que o rock, considerado tão mundano, tem sua origem diretamente vinculada à música gospel negra. O que seria da nossa música hoje se os africanos nunca houvessem sido levados para trabalhar como escravos no sul dos Estados Unidos?

https://pt.wikipedia.org/wiki/Sister_Rosetta_Tharpe