UMA CRUZ NA BEIRA DA ESTRADA
UMA CRUZ NA BEIRA DA ESTRADA
Manoel Belarmino
Neste sertão parece ser comum e normal se ver nas beiras das estradas uma cruz. É um sinal que alguma pessoa teve sua caminhada finalizada ali. Nas rodovias a maioria das cruzes está nos lugares onde as mortes ocorreram por acidentes automobilísticos. Nas estradas vacinais, de chão, nos caminhos, na maioria das vezes, a cruz indica que naquele lugar alguém morreu por "morte matada". Alguém ali foi vítima, foi assassinado, em uma emboscada.
Em um lugar está só uma cruz, em outro é feita uma capelinha em miniatura. Mas ali também, a cruz, além de indicar o local da morte violenta de uma pessoa, inclusive com o nome do morto gravado na cruz, é um símbolo de demonstração de fé e religiosidade do povo sertanejo.
Uma cruz é fincada ali, na beira da estrada, no local da morte, e outra lá no cemitério, na cova, onde o corpo foi sepultado. É assim aqui no sertão. A morte, a fé e a religiosidade popular marcam o imaginário e a vida do povo sertanejo. Dia de Finados, Sétimo Dia, Sexta Feira Santa, Visita de Cova, Pedidos de Rezas Depois da Morte, Promessas Pagas Depois da Morte, etc.
A violência continua e novas cruzes continuam aparecendo sempre em um novo ponto na beira da estrada e na beira do caminho.
Aí eu me lembrei do poema A Cruz da Estrada do poeta Castro Alves, veja o trecho que transcrevo abaixo:
"Caminheiro que passas pela estrada,
Seguindo pelo rumo do sertão,
Quando vires a cruz abandonada,
Deixa-a em paz dormir na solidão.
Que vale o ramo do alecrim cheiroso
Que lhe atiras nos braços ao passar?
Vais espantar o bando buliçoso
Das borboletas que lá vão pousar."
(Trecho do Poema A Cruz da Estrada-Castro Alves).