O efêmero sucesso musical Menina da Roda

Do dia pra noite o cantor e compositor Ed Luiz estava em todas as redes sociais com milhões de acesso e convites para apresentações com a música Menina da Roda.

Nascido e morador no Morro da Sarna, Ed nascera Edvilson Silva, cuja mãe era fá do cantor Ed Wilson que ficou imortalizada por ter acabado de chegar na Festa de Arromba do Erasmo Carlos. Mas Edvilson não era nome de artista. Ed Luiz era mais top.

Alguém sugeriu que o título deveria ser ‘Garota’ e não ‘Menina’. Se fosse ‘Menina’ em vez de ‘Garota’ de Ipanema, aquela de Jobim e Vinícius, não teria feito tanto sucesso. Agora já estava gravado e bombando. E quem duvidaria que virasse filme até com indicações ao Oscar?

- E quem foi a sua musa inspiradora? É aqui do Sarna? Ed Luiz se fazia de desentendido e o suspense permanecia.

E vieram conselhos e desaconselhos.

- Não abandone nossa comunidade, Ede. Não perca suas raízes. Se sair, não volta nunca mais... Esquece os amigos...

- Tem que sair sim. Não precisa esconder nada. Ir pro centro. Lá tem gente de poder para te orientar. E se der um toró de água e você com show marcado, vai sair de que jeito? E se os homens do tráfico resolvem fechar todas as saídas, vai se apresentar como?

Dona Isa (Isabel), a mãe do novo gênio, queria nova morada, no mínimo na Barra da Tijuca. Chega do barraco com dois cômodos. Teria oportunidade de conhecer de quem eram as camisas de marca que ela lavava e passava com esmero por anos.

A irmã (só por parte de mãe) chamava-se Sheila (18 anos), agora com dois L, queria Copacabana. Só faltava uma limpeza nos dentes e colocar aparelho para uma leve correção. Atributos físicos não lhe faltavam, portanto, não lhe faltaria olhares dos garotos sarados, bronzeados e ricos.

Já com seus 60 anos, o maestro Brito, que lhe ensinou algumas notas musicais na infância, o chamou de lado e foi franco.

- Aproveite o momento e economize Ed. O sucesso é efêmero (teve que explicar o que era efêmero).

Citou João da Praia com a música Aonde a Vaca Vai. Só essa. Morreu pobre e esquecido.

A tentação foi mais forte. Ed Luiz alugou um apartamento no centro. Vida regada a champanhe e um empresário bem pago para divulgar seu nome e prometendo uma gravadora que faria milagres.

Aí surgiu o tal coronavírus e os shows foram cancelados. O empresário prometeu procurar na sexta-feira a então secretária da Cultura Regina Duarte e um financeiro seria liberado. Mas dois dias antes Regina deixou o cargo.

E voltaram para a antiga comunidade. Dona Isa com depressão. A dois L grávida e Ed Luiz tentando compor A Efemeridade Mata.