Trump e Huxley

O que o presidente da mais primorosa das repúblicas ocidentais tem em correspondência com um dos escritores mais lúcidos sobre o status quo da política e da cultura do século XX? É que, mutatis mutandis, o primeiro parece dar voz aos personagens criados pelo segundo. Donald Trump é a síntese do homem ocidental perseguido pelo establishment, o que quer que seja dito por ele torna-se logo objeto da mais covarde censura. Por quê? Quem responde é o escritor, Aldous Huxley. Trump, como um vulto assustado que caminha pela narrativa do "admirável mundo novo", vocifera sua indignação contra o sistema e é, exatamente por isso, duramente reprimido. O objeto da censura, isto é, os referentes na realidade do discurso do censurado, são, em primeiríssima análise, o tema central de todo e qualquer estudo sério sobre os acontecimentos perturbadores dos últimos dias.

Afinal, o que é que o Trump diz de tão assombroso que soa como um escândalo a uma parcela dos seus ouvintes? Primeiro, é preciso dizer a quem pertence os ouvidos afetados pelo "escândalo". Quem são estes que se enfurecem contra Donald Trump a ponto de, como testemunhamos, o censurarem nas suas redes sociais nas quais ele tinha milhões de seguidores? Eles são a nova esquerda. São os adeptos da mentalidade revolucionária agora travestidos com nova roupagem. No passado, a esquerda se esforçava para cooptar o proletariado para o seu projeto político de poder, para, na imagem consagrada, lutar contra a opressão do grande capital. Hoje, contudo, a esquerda revolucionária tornou-se uma caricatura de si mesma. Basta observar a tônica das novas reivindicações: feminismo, gayzismo, paternidade de pets, ecologismo, "salvem as girafas da Amazônia!", imposição de tribunais raciais nas universidades para determinar se o calouro é branco, negro, pardo, mestiço, azul, bege, berinjela, isto num país no qual a miscigenação sempre fora a característica principal da ordem social. Observe também que nenhuma dessas reivindicações são demandas autênticas do povo, do povão, da massa, dos comuns que lutam para sobreviver. Não.

As reivindicações dessa nova esquerda estão identificadas com o mundo altamente subjetivo dos jovens universitários da beautiful people. Quando o povão ocupou as avenidas para pedir mais respeito aos pais de pets, ou às "girafas da Amazônia"? Os adeptos da nova esquerda, os socialistas de iPhone são, portanto, uns hipócritas do mais alto grau! São eles que rangem os dentes quando alguém como o Trump, que conquistou através de muito esforço algum espaço para falar, começa a pregar contra as hipocrisias dos seus adversários ideológicos; começa a chamar a atenção para o praticamente absoluto controle dos meios midiáticos pela linguagem do politicamente correto; começa a denunciar projetos covardes de censura e de perseguição. Trump, como sabemos, é nominalmente um conservador, é um remanescente dos antigos políticos que sabiam, não só dialogar, mas atender as demandas autênticas do povo e, exatamente por isso, conquistar a simpatia dos milhões que foram ouvidos e respeitados.

Evidentemente, Donald Trump não é a encarnação das virtudes, mas ele é um fenômeno da política contemporânea que tem um valor altamente didático para ilustrar alguns aspectos da realidade presente: o povão do ocidente, os cristãos que habitam essa parte do mundo, querem ser respeitados na sua religião, na sua moral e, sobretudo, na sua liberdade. Os projetos políticos que vão na contramão dessas demandas serão rechaçados pela implacável rebelião das massas. E está claro que há um conjunto de projetos na esfera política com implicações na cultura para minar a religião e a moral do ocidente. Isto está muito bem documentado na história recente, basta observar, por exemplo, a serviçal simpatia dos governos pelo aborto, pelo casamento homosexual e pela agenda econômica chinesa. Esta última, aliás, é a grande bandeira do momento.

Ter consciência do senso das proporções é o maior pecado contra a elite dos globalistas, elite esta que tem a sua importância efetiva diminuída por essa nova esquerda num ato desesperado para esconder os seus verdadeiros financiadores. É pecado dizer as coisas como as percebemos, é pecado dizer que isto é feio e aquilo é bonito; que ele é fraco e aquele é forte; que isto é menor e aquilo é maior; que isto é certo e aquilo é errado. Em suma, na narrativa do "admirável mundo novo", a realidade é uma construção artificial na qual a possibilidade do controle total dos indivíduos é alcançada e todo aquele que ousar dizer algo contra essa tirania é punido com o silêncio forçado, seja ele um simples cidadão ou um bilionário que decidiu não servir à elite juntamente com os seus pares.

Vitor Marcolin
Enviado por Vitor Marcolin em 09/01/2021
Reeditado em 28/01/2021
Código do texto: T7155929
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