Viver é a arte de despedir-se
Despedimos de nós mesmos, todos os dias, quando dormimos, e acordamos um novo ser. Nesse campo, não conseguimos, ainda, retroceder.
E sabemos que no final do dia, esse novo ser será enterrado, e tão igual a Lázaro, nos despertaremos para um novo amanhecer, todos os dias, mas antes, temos que adormecer: em fé, em esperança... em busca do autoconhecimento, do amadurecimento, do ser completo.
E nessa busca constante, nesse revezamento entre acordar e dormir,
estamos presos e condicionados, a chegar, e partir.
Nesses extremos, descobrimos a curiosa proximidade ente o novo e o velho: é cíclico. Quando nos encontramos em situação de ser e deixar de ser, olhamos para trás e vemos que foi só uma questão de chegar e partir, e somos obrigados a reconhecer o que se perde ao ganhar, e o que ganhamos ao perder.
Nossas imensas e absolutas certezas da juventude, descobrimo-las, mais tarde, de que não passam de ínfimos fragmentos de dúvidas. E aí por obra e graça do criador, já estamos suficientemente amadurecidos para as sucessivas chegadas e as dolorosas despedidas.
Despedir-se da casa dos pais nos dá autonomia para viver a aventura da vida,
cuja primeira lição, ela já nos deu, quando ainda éramos um feto: despedimo-nos do aconchego do ventre materno; depois perdemos o corpo que cabe no colo de todos;
em seguida, perdemos a adolescência para o adulto.
E não demora nada, é hora de entregarmos o adulto para o idoso.
É ele que vai nos presentear com o entendimento de que “Viver é a arte de despedir-se do mundo”.