PAISAGEM SONORA
Faz bem pouco tempo que ouvi falar sobre paisagem sonora. Mesmo tendo alguma ligação com a música já há algum tempo, só recentemente na universidade, no curso de licenciatura musical, é que vim conhecer o assunto, embora já seja tratado há décadas pelos mestres da didática musical, ou há mais de um século se considerarmos a sinfonia Sagração da Primavera de Stravinsky, onde ele introduziu sons alheios ao universo musical, o ruído.
Fiz essa abordagem com o intuito de entender o nosso mundo atual e quanto adaptável é o ser humano aos ambientes em que é exposto ou habita.
Depois da invenção do motor a explosão, a paisagem sonora teve uma transformação radical.
A urbanização acentuou essa transformação. Em ambiente de cidade a paisagem sonora é absurdamente dominada por sons antinaturais.
Existe será um limite de tolerância aos ruídos causados pelas invenções humanas?
Quando construí a casa onde resido, na década de noventa, ela era uma das poucas do bairro. Era longe de muita coisa, inclusive dos ruídos existentes nas áreas mais habitadas.
Meu bairro, recentemente teve uma evolução espantosa. Bem ao lado construíram um pequeno shopping, junto chegou o ruído do sistema de refrigeração do supermercado lá instalado, as noites de sono não são as mesmas. A quantidade de veículos que circula na redondeza gera um ruído constante. Há um quilômetro mais ou menos para frente, foi construído um outro supermercado grande, pelo padrão da cidade; de manhã bem cedo quando saio pra caminhar, a cidade ainda silenciosa, ouço de muito longe o forte ruído do sistema de refrigeração desse supermercado. Fico então imaginando como ficou a vida dos moradores dali de perto, local de chácaras lindas.
Acredito que nos acostumamos com tudo, aos poucos nos adaptamos a uma condição de vida insuportável em outros tempos.
Nos tempos atuais e urbanos, sem dúvida que a paisagem sonora é composta quase que totalmente por sons antinaturais.