Bêbado Feliz
Por mais atrasado que seja o lugar, há de ter ali alguém que venda uma cachacinha. Num lugarejo conhecido por Várzea Comprida, no município de Glória, no estado da Bahia, à margem direita do rio São Francisco, havia um cidadão que quando tomava uns pileques saia a cantorolar a música de Zé Castor, cujo refrão diz: "quando eu morrer pode o mundo se acabar". Já diziam, desde os velhos tempos, que o bêbado ou é rico ou é valente, e ainda se revela uma pessoa feliz. É quase sempre esse o efeito da droga, lícita ou ilícita, alterar o estado de ânimo de quem a consome. É por isso que ela torna o consumidor num viciado ou dependente. Daquele cidadão, nunca ouvi falar que ele tivesse feito nenhum mal a terceiros. Apenas a ele mesmo, que pode ter abreviado a ida para a outra dimensão, tal qual o Vadinho da Dona Flor e seus dois Maridos, personagem do escritor Jorge Amado, que morreu num Domingo de Carnaval. Se estava fantasiado e cheio de pileques, por certo também morreu feliz.
Apenas não espere que o mundo venha acabar para os outros, assim como acabou para ele.
Assim como também já contemplei o rio São Francisco, mesmo sem cantarolar aquela música, hoje contemplo o mar, nas minhas caminhadas pela orla de Maceió e desejo que essa beleza continue existindo pelos milhões ou bilhões de anos. Como estou sóbrio, posso dizer: "quando eu morrer pode o mundo continuar".