UM FURTO INUSITADO

Por @andreaagnus

Dentre as coisas inimagináveis, existia algo muito comum no campus da Universidade Federal de Goiás: uma bem organizada quadrilha de macacos. Agiam em bando ou com ataques isolados, fazendo por vítimas, em especial, os alunos de humanas: “Aqueles bebedorezinhos de Coca-Cola com coxinha”, talvez pensavam. Quem? Claro que os macacos, óbvio!

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Isto ocorreu comigo há muitos anos, em uma época que seria impossível o Brasil conceber um Bolsonaro como Messias ou que seríamos vítimas de um vírus que se alastrasse a nível mundial, em apenas um ano. Eu cursava filosofia e sempre levava um iogurte natural com uns pães de queijo para acompanhar. Faltavam poucos minutos para a hora do intervalo, quando senti aquelas mãos diminutas tocando meu ombro e me dando um perdido, ao derrubar minha caneta. Foi só o tempo de eu me baixar e já vislumbrei no galho de um ipê, o danadinho olhando para mim, absorto com os dedos lambuzados no meu lanche, foi-se tudo, não me restou nem um pãozinho.

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Mas, a humilhação não foi o bastante para ele. No seu ato final de crueldade, ele jogou a embalagem de iogurte na minha carteira, respingando tudo no meu Ser e o Nada e parecia mesmo rir de Sartre. Seus gritos estridentes se seguiram do arremesso da tupperware em minha cabeça, para gargalhadas de meus colegas de sala e da professora séria de Existencialismo. O macaco me mostrou minha insignificância - era um hobbesiano, onde o homem é lobo do homem e pode muito bem ser tapeado por um macaco quando este tem fome.

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Esta foi a única e última vez que fui furtada e só hoje ganhei coragem para escrever essa história, porque um simples macaco é capaz de fazer um reboliço na vida de um ser humano. Ficou para mim uma importante reflexão: A perspicácia de um primata é mais eficiente que a nossa vã inteligência.

Andréa Agnus
Enviado por Andréa Agnus em 06/01/2021
Reeditado em 06/01/2021
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