UMA VISÃO DE DEUS
Uma pergunta foi feita a um pastor de determinado segmento evangélico: Como Jesus reagiria a essa eclosão gay, o que ele faria? A resposta do pastor foi sensacional: “Nada, ele não faria nada, ou você acha que no tempo dele não existiam gays? No tempo dele existiam tantos ou mais gays que hoje, proporcionalmente, assim como existiam todos os tipos de pessoas, brancos, negros, aleijados, cegos, putas aos borbotões, santos, caridosos, canalhas, falsários, estupradores etc. só que esses julgamentos têm a ver com moral ou desvio de conduta de um lado e de outro, e esse não era um item constante na pauta de Jesus, ele não julgava, apenas acolhia quem dele se aproximava sem nada perguntar”.
Temos a falsa impressão de que antes as coisas eram diferentes por supostamente estarem escritas em livros direcionados a julgamentos morais e comportamentais. Segundo se imagina, as escrituras trazem revelações e direcionamentos baseados em atos de Deus. Deus não praticou atos para exemplificar procedimentos, tampouco enviou um filho para fazê-lo, penso que Deus possa até existir, sabe lá? ...mas não como força repressora e cruel, não com a onipotência a ele atribuída, não com o destino da humanidade em suas mãos, não como um ser capaz de criar leis e ao mesmo tempo burlá-las, sim porque o “milagre” é uma brecha na lei, é uma forma de burlar o que foi proposto.
Não acredito neste Deus dos púlpitos, para mim ele seria uma força residente, aquela que não nos deixa nunca, é a única capaz de te dizer sobre você mesmo e de produzir a “mea-culpa”, é a latente e devastadora força que impele a procurar redenção, é aquela que te diz: “fizeste uma grande bobagem”. Desta forma ele passa a ser o regente, o organizador desse universo, sem que interfira nas leis naturais, tampouco no livre arbítrio de seus “regidos”. Deus não é uma terceira pessoa, ele vive em cada uma das criaturas, criadas por ele ou não, isso eu talvez nunca descubra, mas imagino que ele age independentemente de revelação direta, ou tradição.
Deus é uma força criadora ou organizadora neste pequeno espaço que costumamos chamar de universo? Creio que seja o correspondente direto de Demiurgo de Platão, um ateu. Eu estou inclinado a afirmar a existência de uma espécie que ao menos corresponda a figura “criada” de um deus, embora não pratique nenhuma religião, não posso negar a realidade de um mundo completamente regido por leis naturais e físicas. A realidade a que me refiro pode não ser esta que se apresenta, pode não ser a sua realidade, nem a minha, talvez essa seja sim apenas uma delas.
Acredito que as ideologias religiosas devem tentar reconciliar e não contradizer a ciência. Assim, um dos princípios fundamentais desta minha posição é baseado na consolidação de que esta força magnética exista, criou o universo físico e continua a criar, porém como parte do processo, se instala, qual um chip, nas entranhas de suas criaturas, de onde se pronuncia e as orienta sem interferir diretamente em suas escolhas, alguns chamam isso de subconsciente outros de livre arbítrio.
Não tenho a intenção de investigar Deus, não me importa em saber o que ele está fazendo agora, isso vai de encontro a visão do fideísmo inserido em muitos ensinamentos e dogmas impostos por cristãos, islâmicos e judeus, que firmam seus pilares em revelações das escrituras ou no testemunho incoerente de outras pessoas.
Rejeito eventos sobrenaturais como milagres e profecias, etc. Deus, se é que existe, não interfere na vida dos seres humanos e nas leis do universo.
Sobre as religiões organizadas que usam revelações divinas e livros sagrados, vejo como invenção de humanos, no intuito de conseguir poder e o subjugo de outros humanos para que suas posições de destaque e solidez econômica sejam mantidas, não como fonte de autoridade, porém posso admiti-las como inspiração corretiva e controle da deficiência moral de seres menos esclarecidos. Enfim, quando nosso senso crítico é automaticamente acionado, isso para mim, pode ser uma manifestação deste deus. Penso que o maior presente deste pretenso deus para a humanidade, não seja a religiosidade, mas "a capacidade de questionar”.
Anderson Du Valle