EM TEMPOS DE CORONA, A ELITE AMEAÇADA

A quase inusitada circulação de mais um vírus entre nós, digo “quase” porque outros já passaram e ainda outros virão, mas isso provocou uma enorme mudança de hábitos em todo o mundo, só não se sabe até onde esta nova ordem de conduta será efetiva. Os governos conservadores, avessos a mudanças de rotina e renitentes quanto a admissão de uma pandemia desta magnitude, contemporizam, mas não apresentam ou não têm noção de suas limitações, aqui as campanhas, apesar de termos gente se jogando no canal inundado para “curtir” o “barato” da enchente, não existem ou ainda são tímidas, um plano B até agora é só um desserviço de informações desencontradas.

A dengue, em termos percentuais tem um grau de letalidade maior que o corona, morrem brasileiros todos os dias por sua causa, mas não é tratada como prioridade, sabe por quê? É que a dengue, a zika e a chicungunha, são doenças de pobres, transmitidas por um mosquito que habita os lixões e a casa daquelas mesmas pessoas que se atiram no canal, não chega a bater na porta da elite encastelada em suas coberturas e sem contato com essa realidade que é só nossa. Mas a COVID, não. O vírus corona é altamente contagioso e perigosamente democrático, não livra a cara de ninguém, seja político, pastor, caucasiano, transgenero, anão ou mulher, não reconhece patentes nem autoridades, gordos ou carecas, negros ou ruralistas, não possui crachá, tampouco pode ser barrado por seguranças, não tem preconceito nem viés ideológico. O que eles não contavam é que embora a “doença dos pobres” possua, percentualmente, um grau maior de letalidade, entorno de 26%, o corona se dissemina com uma velocidade impressionante e seu contágio em números absolutos é imensamente maior do que a dengue, por exemplo, e seus 2% de óbitos podem chegar a números absolutos exorbitantes, aí sim, agem rapidamente quando ameaçados de fato, as campanhas são intensificadas, a população é enclausurada pelo bem de “todos”, se é que entendem.

Bem, curiosidades empilham-se e revezes também. Os evangélicos, por exemplo, creem que o final dos tempos é chegado e que as pragas ditas no livro apocalíptico começam a se cumprir, eu até acho que eles podem ter razão, já que de falsos profetas e falsos deuses eles entendem bem. Já os comunistas, acusados de criarem o vírus, desenvolveram também, em Cuba, o antídoto mais efetivo, só que por outro lado, os de extrema-direita não acreditam nisso e, segundo apurei, se recusariam a tomar medicamentos produzidos naquele país. Bem, não posso dizer que esta seja uma má notícia, afinal, ainda estamos em uma democracia e eles têm todo o direito de se danar.

Alguns problemas devem ser estudados como a prostituição, por exemplo, não basta mais só a camisinha, as hóstias nas missas têm que passar por uma releitura, o cumprimento agora só com os pés, o beijo passa a ter uma importância muito maior nas redes sociais, haja coraçõezinhos. Brincadeiras à parte, as redes sociais que antes já vinham ocupando grande espaço na vida das pessoas, fazendo com que automaticamente elas se afastassem por conta da facilidade de relacionamento, neste momento tornam-se decisivas e o isolamento humano pode afinal se concretizar definitivamente, o toque, o abraço, o afago, poderão retroceder aos anos passados quando os homens usavam ternos diariamente e as mulheres, vestidos até os calcanhares, talvez seja essa a virtude que tanto se busca, só que por necessidade, não por consciência.

Nos individualizaremos cada vez mais, não haverá mais jogos de futebol, teatro, cinema, os “malucos” não vão mais poder fazer circular aqueles “fininhos” de mão em mão, de boca em boca; será o fim daquela cumplicidade nas esquinas? ... as bicicletas voltaram às ruas, aumentará o uso de descartáveis e a vida outra vez voltará à introspecção dos clãs até que chegue a hora daquele cometa, este sim, resolveria tudo, o problema é que ele só ameaça ...

Du Valle