O JARDIM DA CASA DE ADÉLIA

Dava seis horas da noite e eu já tinha tomado banho e me arrumado todo, o destino era a casa de Adélia, minha namorada. Seis e pouca já estava jantando meio apressado, parecia até que eu estava engolindo sem mastigar direito, a ansiedade de encontrar a garota era demais, afinal fazia pouco tempo de namoro, cerca de três meses, queria aproveitar o máximo, pois quando desse dez horas tinha que tirar o time de campo. Na saída mais um pouco de perfume da Avon e no bolso um spray mentolado para deixar o hálito gostoso, principalmente quando beijava na boca. Andava só um pouco, a casa de Adélia ficava a três quadras da minha. Eu me sentia feliz no auge dos meus 19 anos. Era a época da Jovem Guarda, acho que todos deviam conhecer.

Em lá chegando eu aspirava o cheiro das flores do jardim da casa dela, era uma delícia, não me controlava, ela só fazia rir. Tinha um banquinho de madeira no meio do jardim, ali era o nosso lugar sagrado para as nossas carícias que as vezes eram interrompidas pelas irmãs dela, principalmente uma pequeneninha que devia ter uns seis aninhos. Era Adilma, eu gostava dela, pois conversava muito comigo, tinha hora que eu achava ela uma chata que atrapalhava o namoro. Adélia nada dizia e até ria. Eu me impacientava e ia cheirar as flores, uma por uma.

Dez horas, tinha que ir embora, os pais dela já estavam de olho, esse compromisso de cumprir o horário não era para falhar, muitas vezes um beijo bem demorado me fazia passar do tempo determinado, os pais deviam estar ocupados com alguma coisa ou vendo televisão, algum programa que prendia a atenção deles, o que me fazia aproveitar bastante. Antes de ir embora mais uma cheirada nas flores, o que causava um certo ciúme em Adélia, que ameaçou arrancar todas as flores, no que eu protestei veementemente. Ela ria com a minha preocupação. Eu gostava dela, mas gostava também das flores do seu jardim.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 05/01/2021
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