O mês de janeiro é uma espécie de cashback do banco de lembranças da vida, ao menor sinal de suspiro, uma nuvem nostálgica paira sobre o pensamento e traz um flashback que transporta a alma para uma linha do tempo, cuja certeza única é de que a vida acaba. No último break, no primeiro beijo, na virada, sorte a minha que, por assim dizer, tenho em minhas mãos esse segundo transitório. Memória afetiva foi buscar as mãos ternas e enrugadas de minha avó materna cujos janeiros foram poucos, diante da expectativa. Em sua simples convicção, até o dia em que os Reis Magos, trariam os presentes a Jesus, numa simbologia cristã mágica, o Natal permanecia. Ela levantava cedo, corria até o sótão, resgatava as caixas para guardar os enfeites e, esperando o nosso despertar, sentava-se diante do nascer do sol, numa cadeira de balanço. De olhos fechados e com um sorriso no rosto, ela inspirava buscando o ar que a circundava como se fosse, por si só, fonte de prazer supremo. Ali estavam todas as suas expectativas para o ano vindouro: uma oração interior, sem palavras, apenas um exercício de gratidão. Ao sentar-me no seu colo, sentia o deslizar dos dedos nos cabelos, já acompanhados de uma escova que parecia um instrumento relaxante, capaz de congelar o tempo.
- Enquanto houver sol, minha filha, estaremos amparados. Veja como a luz do sol ofusca a escuridão fria do sótão. Se não fosse por eles, os astros, não seríamos avisados sobre o nascimento do rei! E com um sorriso, um abraço aconchegante e um beijo, selava a esperança sob o aval dos raios.
- Enquanto houver sol, minha filha, estaremos amparados. Veja como a luz do sol ofusca a escuridão fria do sótão. Se não fosse por eles, os astros, não seríamos avisados sobre o nascimento do rei! E com um sorriso, um abraço aconchegante e um beijo, selava a esperança sob o aval dos raios.