A paisagem de inverno desse lado do mundo é tão sem cor e triste que leva muitas pessoas a terem depressão.
E não há nada mais gratificante do que enxergar, nessas manhãs de inverno, o sol entrando pela fresta da janela da sala, invadindo  lentamente o carpete, amornando meus m
óveis e beijando minhas plantas que, altivas, saúdam o Astro Rei.
Quem já viveu quase metade da sua vida no Brasil, com os dias sempre claros e com o sol sempre brilhando, tem grande dificuldade  de enfrentar essa paisagem cinzenta. Haja imaginação para preencher os dias, tentando olhar tudo que se tem para fazer dentro de casa,  testando receitas novas, limpando armários, mudando as coisas de lugar, tirando a poeira até do marido.
Olhando para o outro lado do lago, vejo o rosto das crianças nos vidros de suas salas, com as mãos espalmadas na janela a olhar o sol lá fora,  e nas varandas, as cadeiras e mesas são recolhidas. Não há mais os brinquedos , as piscinas improvisadas de plástico, os gritinhos alegres,  o latido dos cachorros. Os galhos das arvores secas fazem-me desejar ver as folhas verdinhas crescendo, ouvir o som dos passarinhos, ver os patos voltando depois de suas férias no México ou Fl
órida, e os gansos bordando o lago, com suas penas brancas e pescoços elegantes, desfilando como modelos bem pagos em passarelas.
Quando os raios amarelos chegarem, a vida estará de volta como uma injeção de adrenalina. Mas aprendi, com o tempo, contar com minha luz interior,  e fazê-la brilhar sem esperar o sol para ser feliz.


TEMA: ENQUANTO HOUVER SOL
Mary Fioratti
Enviado por Mary Fioratti em 05/01/2021
Reeditado em 12/01/2021
Código do texto: T7152546
Classificação de conteúdo: seguro