A BRIGA COM LÉO

Estávamos comendo doces e conversando ali parados próximos ao muro onde ficava uma enorme árvore, um eucalipto, descendo o caminho de terra que existia quando se entrava pelo portão da rua de cima da escola, a Dinamarca; os alunos faziam muito isso porque, mesmo no intervalo, o pequeno portão ficava aberto e comprava-se guloseimas no comércio da mãe da Denise, que era linda. O Léo chegou apavorando, ou talvez pedindo de modo desajeitado, o Márcio para tomar-lhe os doces. O Márcio, irmão mais novo da Mônica, era meu amigo, e eu não podia permitir aquilo. Brigamos sim, lembro de ter acertado-lhe um soco no arco da região do olho que logo ficou roxo e inchado por dias. O Léo foi embora e eu pra diretoria conversar com o Professor José Collaço, que era o vice, uma vez que diretora D. Esther Garcia, estava em tratamento médico e havia retirado uma das mamas., A briga foi o comentário da semana na escola. Os alunos esperavam revanche e havia um clima, uma tensão naqueles dias. Adquiri fama repentina. Havia muita conversa, tipo ele vai te pegar, mora na Ameixeira, e ele estava sempre do lado de um amigo, um alemão, e ficavam os dois de longe olhando para mim, e vários outros garotos queriam brigar comigo, como meu brother Aníbal Tadeu Rafael. Lembro que, no dia seguinte aos da suspensão, na saída da escola, todos esperavam alguma continuidade do conflito, e aconteceu que, subindo a rua da escola, vinha um cara grande, enorme, aí disseram “Olha o tamanho do cara que veio pra bater no Marcos Pessoa.". Era o João Grandão. Fui encontrá-lo. “Cadê o tal do Léo?. A partir daí muitas alegrias, comecei a beijar e namorar várias meninas na escola, Rosana, de quem eu gostava, Valéria, que namorei, Cláudia, que gostava de mim, Sônia...,No ano seguinte mudei para o período noturno.

Tempos depois, vim encontrar o Léo e quase brigamos novamente, ele me viu e veio pra cima dizendo que agora eu ia ver. Havia o comentário, e espero que não verdade , que o Léo tinha passado uma temporada, digamos assim, no Carandiru e isso não era nada bom e era muito preocupante. Mas isso aconteceu num baile na Sport Show onde a coisa poderia ter ficado muito ruim pro Léo, minha irmã Sandra era noiva do dono, os seguranças Hideo, Tadeu e companhia logo intervieram, naquela época brigas ali eram resolvidas no pancadão. Felizmente nada aconteceu, embora ficasse a promessa do você vai ver.

Algum tempo depois, encontrei o Léo novamente, não que o estivesse procurando, mas eu era goleiro do Paulistinha e nossos jogos eram todos fora, sempre no campo do adversário. Barra Funda, Vila Mariana, São Bernardo, Santana, Vila Carioca, das Belezas, Ipiranga. E no campo da Ferradura, do famigerado Botafogo. Ainda no primeiro tempo, atrás do gol, em cima de um morro, apareceram o Léo e mais quatro ou cinco amigos, parece que estavam empinando pipa. Campo de futebol sempre foi um lugar perigoso. Eu estava com a luva na mão. Platão dizia que era sempre bom você ver o lobo primeiro, antes que o lobo veja você. Não estava sol, mas pedi um boné. Mudamos de lado. Corri pro vestiário. Saímos pela direita- a saída do vestiário ficava à direita- e nunca mais vi ou soube do Léo.

Marcos Pessoa

Marcos Pessoa
Enviado por Marcos Pessoa em 04/01/2021
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