RELATO DE VIVÊNCIA

RELATOS DE VIVÊNCIA

Me considero surpreso ao ver -- aqui em Belém -- um evento com ingresso por 25 reais... vivemos época, no início dos anos 90, em que era difícil se conseguir vender 1 foto de "Batizado" (ou entrega de cordas, agora) por míseros 50 centavos. Hoje, quem precisa de comprovação de presença na Capoeira não a tem justamente porque "economizou". Houve eventos cobrados naquele tempo, bem baratos, entre 2 e 5 reais... coisas mais caras como revistas, LPs, depois CDs, não se vendia ! Lembro que o primeiro evento cobrado de que tive notícia (além das nossas apresentações com artistas "ananins" no TWH em 1990 e 91) foi o campeonato da APC - Assoc. Paraense de Capoeira, recém-criada pelo então contramestre "Robertinho", junto com um certo Imbiriba, em meados de 1992. A citada Associação promoveu diversos torneios, ignoro se pagos, mas vendia abadá e camiseta dela, outra surpresa, concorrendo os compradores a 1 microsystem, surpresa maior ainda.

Um famoso grande mestre (de meu bairro), de tantas "histórias", fez salvo engano em 1994 um "Batizado" dentro do maior shopping da Capital, com ingressos a 5 reais... o meu levava o número 476 e anunciava a presença nele de 10 grandes Mestres de meio Brasil, como "convidados". (?!) Alertei a gerência 10 dias antes que "aquilo" não ía acabar bem. Manteve-se o evento assim mesmo... a "festa" findou "na tela" de um programa policial de TV e teve repercussão e explicações até em jornal.

Por volta de 1995/96 mestre Walcir faria um "festival" de música, também pago, do qual sairia um disco LP, talvez CD. Nunca vi a obra em lugar algum, contudo dizem que existe. Lá por 2005 o famoso Bezerra faria outro CD, no distante Canadá, do qual nunca vi nem sombra. Na praça da República, também em 96, um certo "Caiçara" apareceu vendendo um calendário, nunca vi nada tão feio ! Tentei comprar, negou-se a me vender ! Nesse mesmo ano ofereci nossa imensa coleção à SEEL, instalada no "Mangueirão". O recepcionista "sugeriu" que eu consultasse o mestre (?!) de Capoeira de lá, exatamente o "vendedor". Respondi-lhe que meu ofício era para o Secretário de Esportes e "para ninguém mais" ! Como nunca me responderam, a coleção "virou cinzas" !

Relatos ou depoimentos exigem sinceridade, porém se a vida do sujeito é confusa e a dedicação ao que faz quase nenhuma ouviremos "histórias", porque lhe faltam FATOS. Centenas de ônibus da capital em 1990 passavam por placa amarela de meio metro, em modesta academia, anunciando aulas de um MESTRE de Angola e Regional, Maculelê e... Puxada de Rede ! Fui conhecer a "figura"... "não passava lá fazia semana e meia", me disse a jovem responsável pelo local. Na parede, diploma (?!) do "Garotos da Senzala" e a "foto" do mestre, "plantando bananeira", onde não se via seu rosto. Meses depois, no colégio em frente, "Batizado" do Grupo. Fui encontrar a "maravilha": não dirigiu seu próprio evento, sentou-se na platéia, a conversar com amigos, enquanto professores convidados batizavam. "Entrega de cordas" é um momento solene, inesquecível para o aluno, porém -- como afirma meu irmão -- "muitos vivem PARA A CAPOEIRA... alguns poucos VIVEM DELA" ! (*1)

Pouco depois de fundada a APC e de diversos campeonatos ouvimos falar de um "batizado" do mestre "Chaguinha", seu nome na época, agora no DEFIDE, depois DEAF, onde "Zumbi" dera aulas por anos. Chegamos cedo, uma 18 horas, meu irmão e eu, para conferir como seria o tal Batizado do bem famoso (?!) mestre. Ficaram "nos cozinhando" até 8 da noite... de repente, surgem em fila 4 ou 5 jovens, êle na frente. Liga-se um toca-disco, rotação arrastando... êle desmonta um berimbau e cobra do aluno que o remonte. Vou poupar o leitor do restante, até porque TUDO atualmente vira DIFAMAÇÃO e o fato mais idiota pode redundar em processo. Em 1993 êle se uniria ao Imar e um certo Imbiriba para mover processo contra mim por afirmar aos jornais "que em Belém não tinha mestres". Era exatamente o que afirmava a recém-fundada CBC, cujo regulamento me fôra enviado por Luís Sérgio Vieira, me enchendo de elogios pelo trabalho do CCCP. Claro que eliminei das "Regras Oficiais" maluquices como "torneios de Passo a Dois", "mestres mirins" e 4 faixas de "Mestrado", desvalorizando por completo o título trissecular de Mestre, agora, "mero degrau". Em ofício ao MP expuz ao juiz as novas Regras e nem compareci ao julgamento da queixa deles. Imar criaria em seguida sua própria graduação, na qual se fez mestre. Simples assim !

Meu irmão tem teoria da qual discordo... "se Bimba e Pastinha conheciam 80 ou 90% da Capoeira de sua época, os alunos que os sucederam saberiam menos e, cem anos depois, só a metade do SABER antigo". Em Belém conheci e convivi com os 2 nomes maiores dela -- uns 15 dias, se tanto -- e posso afirmar que seus alunos (?!) sabiam mais que os mestres, pelo menos DE CANTO e toque. Ambos tocavam pouco berimbau e nunca os ouvi cantar, nem em Batizados, seus ou de outros.

Aprenda-se uma coisa: quem não se dedica à sua Arte (qualquer delas) terá ALUNOS RUINS, que farão outros ainda piores... e a tal Arte "afunda", se deteriora ! Enquanto FOLCLORE que a Capoeira ainda é, canto e toques são essenciais à sua existência. Nela, já se exigiu domínio de DEZ ou mais toques, creio que hoje mal se cobra o conhecimento de CINCO ou 6. Pandeiro e atabaque não são para estourar o tímpano de ninguém e o atabaque DESAFINA se fôr tocado com força. A afinação dele se faz no sol, apertando as cunhas de tempo em tempo. O aquecimento com fogo (de jornal) resseca o couro, que racha em pouco tempo, além da "afinação" não durar nem meia hora.

HRELATOS DE VIVÊNCIA

Me considero surpreso ao ver -- aqui em Belém -- um evento com ingresso por 25 reais... vivemos época, no início dos anos 90, em que era difícil se conseguir vender 1 foto de "Batizado" (ou entrega de cordas, agora) por míseros 50 centavos. Hoje, quem precisa de comprovação de presença na Capoeira não a tem justamente porque "economizou". Houve eventos cobrados naquele tempo, bem baratos, entre 2 e 5 reais... coisas mais caras como revistas, LPs, depois CDs, não se vendia ! Lembro que o primeiro evento cobrado de que tive notícia (além das nossas apresentações com artistas "ananins" no TWH em 1990 e 91) foi o campeonato da APC - Assoc. Paraense de Capoeira, recém-criada pelo então contramestre "Robertinho", junto com um certo Imbiriba, em meados de 1992. A citada Associação promoveu diversos torneios, ignoro se pagos, mas vendia abadá e camiseta dela, outra surpresa, concorrendo os compradores a 1 microsystem, surpresa maior ainda.

Um famoso grande mestre (de meu bairro), de tantas "histórias", fez salvo engano em 1994 um "Batizado" dentro do maior shopping da Capital, com ingressos a 5 reais... o meu levava o número 476 e anunciava a presença nele de 10 grandes Mestres de meio Brasil, como "convidados". (?!) Alertei a gerência 10 dias antes que "aquilo" não ía acabar bem. Manteve-se o evento assim mesmo... a "festa" findou "na tela" de um programa policial de TV e teve repercussão e explicações até em jornal.

Por volta de 1995/96 mestre Walcir faria um "festival" de música, também pago, do qual sairia um disco LP, talvez CD. Nunca vi a obra em lugar algum, contudo dizem que existe. Lá por 2005 o famoso Bezerra faria outro CD, no distante Canadá, do qual nunca vi nem sombra. Na praça da República, também em 96, um certo "Caiçara" apareceu vendendo um calendário, nunca vi nada tão feio ! Tentei comprar, negou-se a me vender ! Nesse mesmo ano ofereci nossa imensa coleção à SEEL, instalada no "Mangueirão". O recepcionista "sugeriu" que eu consultasse o mestre (?!) de Capoeira de lá, exatamente o "vendedor". Respondi-lhe que meu ofício era para o Secretário de Esportes e "para ninguém mais" ! Como nunca me responderam, a coleção "virou cinzas" !

Relatos ou depoimentos exigem sinceridade, porém se a vida do sujeito é confusa e a dedicação ao que faz quase nenhuma ouviremos "histórias", porque lhe faltam FATOS. Centenas de ônibus da capital em 1990 passavam por placa amarela de meio metro, em modesta academia, anunciando aulas de um MESTRE de Angola e Regional, Maculelê e... Puxada de Rede ! Fui conhecer a "figura"... "não passava lá fazia semana e meia", me disse a jovem responsável pelo local. Na parede, diploma (?!) do "Garotos da Senzala" e a "foto" do mestre, "plantando bananeira", onde não se via seu rosto. Meses depois, no colégio em frente, "Batizado" do Grupo. Fui encontrar a "maravilha": não dirigiu seu próprio evento, sentou-se na platéia, a conversar com amigos, enquanto professores convidados batizavam. "Entrega de cordas" é um momento solene, inesquecível para o aluno, porém -- como afirma meu irmão -- "muitos vivem PARA A CAPOEIRA... alguns poucos VIVEM DELA" ! (*1)

Pouco depois de fundada a APC e de diversos campeonatos ouvimos falar de um "batizado" do mestre "Chaguinha", seu nome na época, agora no DEFIDE, depois DEAF, onde "Zumbi" dera aulas por anos. Chegamos cedo, uma 18 horas, meu irmão e eu, para conferir como seria o tal Batizado do bem famoso (?!) mestre. Ficaram "nos cozinhando" até 8 da noite... de repente, surgem em fila 4 ou 5 jovens, êle na frente. Liga-se um toca-disco, rotação arrastando... êle desmonta um berimbau e cobra do aluno que o remonte. Vou poupar o leitor do restante, até porque TUDO atualmente vira DIFAMAÇÃO e o fato mais idiota pode redundar em processo. Em 1993 êle se uniria ao Imar e um certo Imbiriba para mover processo contra mim por afirmar aos jornais "que em Belém não tinha mestres". Era exatamente o que afirmava a recém-fundada CBC, cujo regulamento me fôra enviado por Luís Sérgio Vieira, me enchendo de elogios pelo trabalho do CCCP. Claro que eliminei das "Regras Oficiais" maluquices como "torneios de Passo a Dois", "mestres mirins" e 4 faixas de "Mestrado", desvalorizando por completo o título trissecular de Mestre, agora, "mero degrau". Em ofício ao MP expuz ao juiz as novas Regras e nem compareci ao julgamento da queixa deles. Imar criaria em seguida sua própria graduação, na qual se fez mestre. Simples assim !

Meu irmão tem teoria da qual discordo... "se Bimba e Pastinha conheciam 80 ou 90% da Capoeira de sua época, os alunos que os sucederam saberiam menos e, cem anos depois, só a metade do SABER antigo". Em Belém conheci e convivi com os 2 nomes maiores dela -- uns 15 dias, se tanto -- e posso afirmar que seus alunos (?!) sabiam mais que os mestres, pelo menos DE CANTO e toque. Ambos tocavam pouco berimbau e nunca os ouvi cantar, nem em Batizados, seus ou de outros.

Aprenda-se uma coisa: quem não se dedica à sua Arte (qualquer delas) terá ALUNOS RUINS, que farão outros ainda piores... e a tal Arte "afunda", se deteriora ! Enquanto FOLCLORE que a Capoeira ainda é, canto e toques são essenciais à sua existência. Nela, já se exigiu domínio de DEZ ou mais toques, creio que hoje mal se cobra o conhecimento de CINCO ou 6. Pandeiro e atabaque não são para estourar o tímpano de ninguém e o atabaque DESAFINA se fôr tocado com força. A afinação dele se faz no sol, apertando as cunhas de tempo em tempo. O aquecimento com fogo (de jornal) resseca o couro, que racha em pouco tempo, além da "afinação" não durar nem meia hora.

Há muito o que aprender... usar microfone em Roda é quase um crime, quem se mete a cantar "que treine no banheiro" para ter voz que possa ser ouvida acima dos berimbaus e do côro. A Capoeira "se reinventa" a cada dia... por quê ? para quê ? Os 18 ou 20 movimentos da Angola e os 30 ou 40 da Regional original agora PASSAM de 100 e os golpes antigos, muito eficientes, foram esquecidos. Consulte o livro básico de Lamartine P. da Costa quem quiser conhecê-los. Mestre "BETO" vem aí com o evento RELATO DE VIVÊNCIA, dia 9 em Marituba... quem a praticou E ENSINOU todos esses anos narrará FATOS ! Quem não a VIVEU... histórias !

"NATO" AZEVEDO (em 3/jan. 2021, 19hs)

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OBS: não é crime VIVER de Capoeira, muito pelo contrário, Capoeira é conhecimento e não precisa ser dado de graça. Quem construiu seu Grupo com talento E PERSISTÊNCIA tem direito a vender imagens e objetos referentes a êle. Falo do "esperto" sem dedicação alguma, que NÃO DÁ AULAS, posta alguém no seu lugar e vai "abrindo espaços", sempre preenchidos por um despreparado qualquer. Esse "VIVE DELA", no pior sentido... prejudicando-a, dando péssimo exemplo, SEM CONSTRUIR nada, só "se aproveitando" do conceito que a Capoeira lhe dá ! Felizmente, em Belém ou no resto do país, são poucos !