Era domingo a tarde
Era domingo a tarde. Ela estava numa fila de hospital. Era domingo a tarde todos estavam na praia curando a ressaca de ano novo. Era domingo a tarde, sua respiração era ofegante, sua batida do coração acelerada, a frebre constante, o medo da morte permanente. Era domingo a tarde, no som da sua caixinha, todos tocavam pisadinha. Era muita alegria, muita gente. Não existia máscaras, mas biquinis, shorts e mergulhos ao mar.
Era domingo a tarde a lotação na UPA era como sempre um sinal de alerta de bastante gente infectada. Carol estava ali com 37 anos, sendo acometida do comprometimento do pulmão. Mas ninguém ligava para ela. Afinal ela é apenas um número na estatística de um ano tão difícil.
Mas como era domingo a tarde, a sua família sentia sua falta, não poderia pelo menos naquele instante contar com seu sorriso com suas piadas inteligentes.
Porém era domingo a tarde Sivaldo estava ali em mais um dia de começo de ano vibrando entre milhares na praia. Aproveitando o sol, agradecendo por ter dinheiro para gastar.
Era domingo a tarde de um dia de janeiro de 2021 e as pessoas seguiam a vida umas no hospital e outras na praia.