Acabou ficando assim
-Vai dormir, menina, já é tarde
_Então me conta uma história
-Era uma vez, há muito tempo atrás...
-Vô...
-O que é, menina?
-Se foi há tanto tempo, todo esse povo já não está velho?
O primeiro impulso seria proferir um palavrão, ou usar da improvisação, optei pela segunda alternativa...
-Outro dia, na semana passada, querendo agradar a afilhada, uma moça já erada, uma fada quis fazer um feitiço acontecer.
Mas a bondosa fada, com idade já avançada, não conseguia lembrar onde havia deixado sua varinha de condão.
Apelou para uma antiga poção, que de tanto tempo guardada, estragou, e a coitada, matou o rato, que seria transformado em alazão.
Ela havia feito a feira, naquele sábado ensolarado, mas se esqueceu de comprar abóbora e lá se foi a carruagem... teve que se virar com jiló, e o máximo que conseguiu foi uma Romiseta, antiga moto de três rodas, que tinha por direção um guidão.
O príncipe, a incontinência o obrigava a usar fraldão, chegou dirigindo aquele treco, e muito apertado com a afilhada, seguiram para o salão, onde a pista era de terra batida, que a chuva transformara num imenso brejão.
A idosa fada atrapalhada, pela idade avariada, se esqueceu de botar horário, para o fim daquela tortura, que alguns chamaram de baile.
À meia-noite, em ponto, se fez uma escuridão, e todos fugiram para o portão, quando tantos perderam as Havaianas, o príncipe, já arcado, nunca teve disposição, para procurar pés para tantas sandálias, e nem tinha motivação.
Morreram todos solteiros, foi quase que uma apelação, pois todos apresentavam inchaço... tanto nos pés, como nas mãos.
No dia seguinte a netinha imaginando todos os heróis no caixão, pediu ao paciente Vô, na hora de dormir, que fizesse com ela, apenas uma oração