Rabanadas de Algodão


Meu prédio tinha muitos jovens e jovens se procuram e formam "tribos". Algumas tribos têm gente muito zoeira e que adora pegar no pé de todo mundo. Já contei que me zoavam até por ter um amigo deficiente físico que, à maneira dele, "me amava".

A minha era adorável e divertida. Tudo era motivo para festa, e o apartamento em que morava, de andar térreo e que tinha um grande pátio aos fundos, era o palco de noites de violão, contação de piadas e, quando meus pais deixavam, festinhas improvisadas com lanche compartilhado, desde que não ultrapassasse as 21:00h. Tempo bom demais!!!
No apartamento de um deles (4 irmãos, entre eles a protagonista que inspirou essa crônica), os pais permitiam rodas de jogos de cartas e as gargalhadas eram muitas por conta dos blefes.
Nossos pais tinha um pensamento comum: "Se estão dentro de casa, estão seguros. Não estão aprontando e não nos dão dor de cabeça". Por isso concordavam com nossas reuniões e, algumas vezes, até participavam delas. Uns lindos!
Mas vamos ao "causo", que as guloseimas de final de ano me lembraram, protagonizado pela minha amiga, .
A Nanda era uma das pessoas mais espirituosas que conheci na adolescência. Não perdia a piada em nada que pudesse resultar numa. Moravam um andar acima do meu e nossos quartos ficavam na mesma direção.  Daí minha amiga criou uma espécie de "elevador de cestinha" e trocávamos revistas, doces e bilhetes sobre os nossos segredos pelas janelas.
Numa tarde ouvi a batidinha da cesta na janela e fui até o quarto. Nanda tinha enviado uma "correspondência" pedindo que aguardasse porque iria mandar algo pra mim. A cestinha subiu e retornou com uma bandejinha de rabanadas. Amoooo!
Estavam quentinhas, douradas e suculentas e me preparei para saboreá-las. Na primeira mordida, uma dificuldade para cortá-la com os dentes, enquanto a cestinha descia novamente com um bilhete em letras garrafais: 1º de abril! As gargalhadas ecoaram no quarto dela. Tiveram o requintado trabalho de recortar, empanar, fritar e cobrir com açúcar e canela, camadas de algodão no formato do doce apenas para zoar no dia da mentira. A zoação estava ligada no nível máximo daquela vez.
Fiquei chateada, não por ter sido motivo de risada, mas por não haver lembrado da data e ter caído tão facilmente. Me senti meio idiota. :(
Levei uns dois dias imaginando uma forma de "dar o troco", até a tarde em que minha vingancinha se concretizou, mais ou menos da mesma forma. Nanda era louca por suco de abacaxi e preparei um copo espumante, como ela gostava, mas trocando o açúcar por sal... muito sal!
Shame, shame, shame, Marise!
Ok! Ela entendeu a piada e o "troco" e ficou tudo bem.
Eu não fiquei. O pecado tinha se configurado no "pagar com a mesma moeda" e não foi legal, reconheço. Pedi perdão. Não queria estragar nossa amizade! Continuamos amigas por tempos, até quando mudamos de endereço.
 
Mas até hoje permanece em mim uma dúvida: Será que Deus perdoa vingancinhas de zoação?
 


< Histórias que vivi... >
Marise Castro
Enviado por Marise Castro em 01/01/2021
Código do texto: T7149385
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