23h59min
Acordei com os fogos nos meus ouvidos, alguns gritos e também ouvi alguns palavrões não consegui distingui se eram da minha imaginação… Fiz o sinal da cruz e levantei um tanto sonolento, disperso, sim, era a passagem de ano, agora acordei.
Achei uma vela usada e a reacendi, fiz uma oração simples com pedidos para mim, depois minha família e para o mundo, nesta sequência mesmo, não foi egoísmo.
Logo imaginei em escrever algo singelo e bonito, algo bem simples, mas que seria marcante impactante. Nada de “Feliz Ano Novo”. Mais nada veio a mente, talvez os estrondos dos fogos estivessem bloqueando meus pensamentos, me deixando confuso. Olhei o relógio era 23h59min.
Fiquei imaginando quantas vezes meu relógio marcou 23h59min em viradas de ano, e eu talvez nunca tivesse agradecido este momento, este minuto que antecede o minuto seguinte, que deveria ser o minuto mais importante de todos.
Lembrei que poderia estar em qualquer lugar, porém vinha correndo para casa dos meus pais e reencontrar meus irmãos, para abraçá-los e beijá-los, antes das 24h00min, mais conhecida como meia-noite, receber os beijos e as bênçãos dos meus pais, aquilo para mim era fundamental, sagrado, místico. O ano seguinte não seria feliz sem isto.
Depois viriam às vezes dos vizinhos e amigos, eram tantos abraços, beijos e tapinha nas costas… A casa cheia. Olhei para o relógio mais uma vez e continuava 23h59min, o ponteiro dos minutos ficava pulsando, tentando andar, meu relógio parou, mas quem ligava?
Estava no meu quarto escuro, ainda se ouvia os fogos, agora com menos intensidade e os gritos das pessoas também pareciam cessarem, já se passara a euforia dos primeiros minutos do ano novo, tudo voltaria à normalidade em breve, a rotina, como há anos acontece.
Peguei no sono.
Roberto Ornelas